domingo, 31 de maio de 2015

"Papa: Que nossas comunidades reflitam o esplendor da Trindade"

O Papa Francisco disse que a Santíssima Trindade é comunhão de Pessoas divinas as quais estão uma com a outra, uma para a outra e uma na outra

Rádio Vaticano

Na Solenidade da Santíssima Trindade deste domingo, 31, o Papa Francisco iniciou a oração do Angelus saudando a multidão presente na Praça São Pedro e propondo o modelo trinitário como exemplo para vidas e comunidades eclesiais.

“Somos chamados a viver não uns sem os outros, sobre ou contra os outros, mas uns com os outros, para os outros e nos outros”. A Trindade é comunhão de Pessoas divinas as quais estão uma com a outra, uma para a outra, uma na outra: esta comunhão é a vida de Deus, o mistério do amor do Deus vivo.

“Foi Jesus quem nos revelou este mistério”, disse o Pontífice, que em dois momentos convidou as pessoas ali presentes a fazerem o sinal da cruz, em voz alta, recordando este mistério “que abraça toda a nossa vida e todo o nosso ser cristão”.

A ordem que Jesus deu a seus discípulos para irem a todo o mundo pregar o Evangelho e batizar “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, é a mesma dada à Igreja, que herdou o mandato missionário dos Apóstolos. “A Solenidade de hoje, portanto, ao mesmo tempo que nos faz contemplar este maravilhoso mistério, nos renova a missão de viver a comunhão com Deus e entre nós no modelo daquela trinitária”.

“Somos chamados a viver não uns sem os outros, sobre ou contra os outros, mas uns com os outros, para os outros e nos outros. Isto significa acolher e testemunhar concordes a beleza do Evangelho; viver o amor recíproco e para os outros, partilhando alegrias e sofrimentos, aprendendo a pedir e dar perdão, valorizando os diversos carismas sob a guia dos Pastores. Em uma palavra, nos é confiada a missão de edificar comunidades eclesiais que sejam sempre mais família, capazes de refletir o esplendor da Trindade e de evangelizar não somente com palavras, mas com a forma do amor de Deus que habita em nós”.

“A Trindade é o fim último para o qual é orientada a nossa peregrinação terrena. O caminho da vida cristã é, de fato, um caminho essencialmente trinitário”, disse o Papa.

“Que ela nos guie pela mão; nos ajude a perceber nos eventos do mundo os sinais da presença de Deus, Pai e Filho e Espírito Santo; nos faça amar o Senhor Jesus com todo o coração, para caminhar rumo à visão da Trindade, objetivo maravilhoso para o qual tende a nossa vida. Peçamos a ela também para ajudar a Igreja, mistério de comunhão, para ser comunidade acolhedora, onde cada pessoa, especialmente pobre e marginalizada, possa encontrar acolhida e sentir-se filha de Deus, querida e amada”.

Saudação

Antes de saudar os grupos de diversas proveniências presentes na Praça, o Pontífice recordou a beatificação neste domingo em Bayonne, na França, do fundador das Irmãs Servas de Maria, Louis-Edouard Cestac.

“O seu testemunho de amor a Deus e ao próximo é para a Igreja um novo estímulo a viver com alegria o Evangelho da caridade”.

O Papa Francisco recordou também que na próxima quinta-feira, 4, em Roma, será realizada a tradicional procissão de Corpus Christi, com a celebração da missa às 19h na Praça São João de Latrão, a adoração ao Santíssimo e a caminhada até a Basílica Santa Maria maior: “Convido-vos desde agora a participar deste solene ato público de fé e de amor a Jesus Eucarístico, presente em meio ao seu povo”.

sábado, 30 de maio de 2015

Papa fala a membros de Associação dedicada à ciência e à vida"

Papa pede que membros de Associação não se esqueçam dos atentados contra a sacralidade da vida humana: aborto, eutanásia e outros

Da redação, com Rádio Vaticano

O Papa Francisco recebeu neste sábado, 30, na Sala Clementina, cerca de 400 participantes de um encontro, promovido pela Associação Ciência e Vida. O evento discute o tema “Que tipo de ciência para qual tipo de vida” e celebra os dez anos de atividades da organização.

Em sua saudação aos presentes, o Papa disse, inicialmente, que esta associação “presta um serviço importante e encorajador em prol da pessoa humana”. E que para tutelar a pessoa, é preciso, colocar ao centro das atividades dois aspectos: sair para encontrar e encontrar para sustentar. “Trata-se de um dinamismo que vai do centro para as periferias: o centro é Cristo e dele partem as diversas ações, que vão ao encontro da vida humana”, disse.

“O amor de Cristo nos impele a tornar-nos servidores dos pequenos e idosos, de cada homem e mulher, dos quais devem ser tutelados o direito primordial à vida. A existência da pessoa humana, à qual vocês dedicam a sua solicitude, é o princípio constitutivo da sua Associação: a vida, na sua imperscrutável profundidade, cria e acompanha todo o caminho científico. Eis o milagre da vida, que coloca em crise a presunção científica, restituindo-lhe beleza e maravilha”, destacou.

Francisco convidou os membros da Associação “Ciência e Vida” a manterem o olhar na sacralidade de cada pessoa, para que a ciência esteja realmente a serviço do homem e não homem a serviço da ciência.

“Portanto, reconhecendo o valor inestimável da vida humana, devemos refletir também sobre o uso que fazemos dela. A vida é, antes de tudo, um dom. Esta é uma realidade que pode gerar esperança e futuro se for vivificada por elos fecundos, pro relações familiares e sociais, que abrem a novas perspectivas”.

O Papa ainda exortou a não esquecer todos os atentados contra a sacralidade da vida: o aborto, a exclusão dos mais necessitados, a morte no trabalho, a morte por desnutrição, o terrorismo, a guerra, a violência, a eutanásia.
Ao se despedir dos numerosos presentes na Sala Clementina, Francisco os convidou a “cultivar e respeitar a dignidade transcendente do homem”, como também a relançar “uma renovada cultura da vida”, que saiba oferecer horizontes de paz, de misericórdia, de comunhão e de diálogo profundo com o mundo da ciência.
O Santo Padre recebeu também na manhã deste sábado, 30, o Prefeito da Congregação para os Bispos, cardeal Marc Ouellet, e o arcebispo de Trujillo, no Peru, dom Héctor Miguel Cabrejos Vidarte.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

"Papa pede sabedoria pastoral para renovar anúncio do Evangelho"

O Papa Francisco recebeu os participantes da Plenária do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização no Vaticano

Rádio Vaticano

Em seu discurso, o Pontífice falou em seu discurso sobre o tema da relação entre evangelização e catequese / Foto: L’Osservatore Romano

Nesta sexta-feira, 29, o Papa Francisco recebeu no Vaticano os participantes da Plenária do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização. O Pontífice falou, em seu discurso, sobre o tema da relação entre evangelização e catequese.

Papa Francisco diz que é preciso ler os sinais dos tempos para anunciar da melhor maneira possível a mensagem de Cristo. Ele ressalta que a missão é sempre idêntica, mas a linguagem com a qual anunciar o Evangelho requer renovação, com sabedoria pastoral.

“Isto é o que os homens esperam hoje da Igreja: que saiba caminhar com eles oferecendo a companhia do testemunho da fé, que nos torna solidários com todos, em especial com os mais sós e marginalizados. Quantos pobres aguardam o Evangelho que liberta.”

Francisco diz ainda que quantos homens e mulheres, nas periferias existenciais geradas pela sociedade consumista, aguardam a “nossa” proximidade e a “nossa” solidariedade.

“O Evangelho é o anúncio do amor de Deus, nos chama a participar da sua vida. A nova evangelização, portanto, é isto: conscientizar-se do amor misericordioso do Pai para que nos tornemos, também nós, instrumentos de salvação para os nossos irmãos.”

Neste contexto, destacou Francisco, a catequese é fundamental e a pergunta sobre como estão educando à fé não é retórica, mas essencial. A resposta requer coragem, criatividade e decisão para empreender caminhos às vezes ainda inexplorados.

“A catequese, como componente do processo de evangelização, precisa ir além da simples esfera escolar, para educar os fiéis, desde crianças, a encontrar Cristo, vivo e operante na sua Igreja. O desafio da nova evangelização e da catequese, portanto, se joga justamente neste aspecto fundamental: como encontrar Cristo, qual é o local mais coerente para encontrá-lo e segui-lo.”

O Papa concluiu o seu discurso garantindo a sua solidariedade e o seu apoio nesta tarefa “tão urgente para as comunidades”, confiando os membros do Pontifício Conselho a Nossa Senhora da Misericórdia.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

"Cristãos mundanos afastam as pessoas de Jesus, diz Papa"

Segundo Francisco, cristãos que levam uma vida mundana não dão testemunho e acabam afastando as pessoas de Jesus

Da Redação, com Rádio Vaticano

Francisco, na capela da Casa Santa Marta, onde celebra as Missas diariamente / Foto: L’Osservatore Romano

Os cristãos mundanos e rigorosos acabam afastando as pessoas de Jesus. Esse foi o ensinamento do Papa Francisco, na Missa celebrada nesta quinta-feira, 28, na Casa Santa Marta. Ele explicou que há cristãos que se preocupam somente com a sua relação com Jesus, uma relação fechada e egoísta, mas não ouvem o grito dos outros.

Comentado o Evangelho do dia, sobre o cego Bartimeu, que grita por Jesus para ser curado, mas é repreendido pelos discípulos para que se calasse, o Papa citou três grupos de cristãos.

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“Aquele grupo de pessoas que, também hoje, não ouve o grito de muitos que precisam de Jesus. Um grupo de indiferentes: não ouvem e creem que a vida seja aquele seu grupinho ali. Estão felizes, mas surdos ao clamor de muita gente que precisa de salvação, que precisa da ajuda de Jesus, que precisa da Igreja. Essas pessoas são egoístas, vivem para si mesmas. São incapazes de ouvir a voz de Cristo.”

Cristãos negociantes

Há também aqueles que ouvem o grito do próximo, mas querem ficar calados, como quando os discípulos distanciaram as crianças de Jesus para que não incomodassem o Mestre.

“O Mestre era deles, para eles e não para todos. Essas pessoas afastam de Jesus aqueles que gritam, que precisam de fé, que precisam de salvação”, disse ainda Francisco. “Dentre elas existem aqueles que fazem negócio, que estão perto de Jesus, estão no templo, parecem religiosos, mas o Senhor os expulsa, porque negociavam ali, na casa de Deus”.

Essas são pessoas que, embora ouvindo os gritos de ajuda, preferem fazer seus negócios e usam o povo de Deus, usam a Igreja para fazer seus comércios. Tais “especuladores”, disse o Papa, afastam as pessoas de Jesus e não dão testemunho.

“São cristãos de nome, cristãos de salão, cristãos de recepção, mas a sua vida interior não é cristã, é mundana. Uma pessoa que se diz cristã e vive como um mundano afasta aqueles que pedem ajuda a Jesus. Depois, há os rigorosos, aqueles que Jesus repreende, que colocam fardos nas costas das pessoas”.

Cristãos coerentes

Já o terceiro grupo de cristãos é formado por aqueles que ajudam as pessoas a se aproximarem de Jesus. São cristãos coerentes com aquilo que creem e com o que vivem e atendem ao pedido de socorro de tantas pessoas que buscam a salvação.

“Fará-nos bem fazer um exame de consciência, concluiu Francisco, para entender se somos cristãos que distanciam as pessoas de Jesus ou as aproximam d’Ele, pois ouvimos o grito de muitos que pedem ajuda para a própria salvação”.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Não há "matrimônio express", diz Papa ao falar sobre noivado

Noivado é etapa importante de conhecimento recíproco para preparar o casal para o matrimônio, lembrou o Papa

Da Redação, com informações do Vaticano


Seguindo no ciclo de catequeses sobre família, o noivado foi o tema da catequese do Papa Francisco nesta quarta-feira, 27. Segundo Francisco, trata-se de um tempo de conhecimento recíproco e de partilha para traçar, juntos, um caminho, já que não existe um “matrimônio express”.

Em italiano, noivado se diz “fidanzamento”, o que está relacionado com a palavra “fiducia”, que significa “confiança”. Logo, o Papa explicou que se trata de uma confiança com a vocação dada por Deus, porque o matrimônio é, antes de tudo, a descoberta de um chamado divino.

“Certamente, é belo que hoje os jovens possam escolher se casar na base de um amor recíproco. Mas justamente a liberdade da relação requer uma consciente harmonia da decisão, não somente uma simples compreensão da atração ou do sentimento, de um momento, de um tempo breve… Requer um caminho”.

Outras catequeses sobre família

O noivado é, então, um tempo de conhecimento recíproco, deve amadurecer assim como uma fruta, já que a aliança de amor entre homem e mulher para toda a vida não se faz de um dia para o outro. “Não existe o ‘matrimônio express’: é preciso trabalhar, caminhar. A aliança aprende-se e se aperfeiçoa”.

O noivado amadurece até que se torne matrimônio, explicou o Papa, lembrando, inclusive, a importância do curso de preparação que é oferecido antes do casamento e que muitos casais acreditam ser inútil. Depois, acabam reconhecendo e ficando agradecidos, pois encontram ali a ocasião para refletir sobre essa experiência.

A importância da Bíblia não passou despercebida. Francisco lembrou que nela o casal pode redescobrir momentos fundamentais para um católico, como a oração e os sacramentos, para preparar o matrimônio de maneira cristã, e não mundana.

Francisco pediu aos jovens que não pulem nenhuma dessas etapas de amadurecimento. “O período do noivado pode se tornar realmente um tempo de iniciação à surpresa dos dons espirituais com os quais o Senhor, através da Igreja, enriquece o horizonte da nova família que se dispõe a viver na sua bênção.”

Na conclusão da catequese, o Papa pediu que se rezasse uma Ave-Maria por todos os noivos, a fim de que possam entender a beleza desse caminho rumo ao matrimônio

terça-feira, 26 de maio de 2015

"Papa: um cristão apegado aos bens faz um "papelão"

Francisco enfatizou que é feio querer seguir Jesus e o mundo, isso constitui um contratestemunho do cristão

Da Redação, com Rádio Vaticano

Francisco destaca que é um contratestemunho querer seguir Jesus e a mundanidade / Foto: L’Osservatore Romano

“É feio ver um cristão seguindo Jesus e a mundanidade”. Nessas palavras, o Papa Francisco centralizou sua homilia desta terça-feira, 26, na Casa Santa Marta, destacando que os cristãos são levados a fazer escolhas radicais na vida. Não pode haver um “cristianismo à metade”, não se pode ter “o céu e a terra”.

Na liturgia do dia, Pedro pergunta a Jesus o que os discípulos ganhariam se O seguissem. O Papa observou que Jesus responde em uma direção diferente da que os discípulos esperavam: não fala de riquezas, mas promete a herança do Reino dos céus com a perseguição, com a cruz.

“Por isso, quando um cristão é apegado aos bens, faz um papelão, como se quisesse as duas coisas; o céu e a terra. E o peso final está naquilo que Jesus diz: a cruz, as perseguições. Isso quer dizer negar a si mesmo, sofrer todos os dias a cruz. Os discípulos tinham a tentação de seguir Jesus, mas o que será desse ‘bom negócio’? Lembremo-nos da mãe de Tiago e João, quando pediu a Jesus um lugar para seus filhos, que um se tornasse primeiro ministro, e o outro ministro da economia. Ela assumiu o interesse mundano em seguir Jesus”.

Francisco explicou que o coração desses discípulos foi purificado até Pentecostes, quando eles entenderam tudo. “A gratuidade em seguir Jesus é a resposta à gratuidade do amor e da salvação que Jesus nos dá”.

Francisco destacou a necessidade de recordar o ensinamento de Cristo: “os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros”, o que significa que “aquele que crê ou que é o maior” deve ser “o servo, deve ser o menor”.

“Seguir Jesus a partir do ponto de vista humano, não é um bom negócio: é servir. Ele o fez, e se o Senhor lhe dá a oportunidade de ser o primeiro, você tem de agir como o último, isto é, servindo. E se o Senhor lhe dá a possibilidade de ter bens, você tem de agir servindo, isto é, ajudar os outros. São três coisas, três degraus que nos distanciam de Jesus: as riquezas, a vaidade e o orgulho. Por isso são tão perigosas as riquezas, porque levam você imediatamente à vaidade e você se acha importante. E quando você pensa que é importante, tudo sobe na cabeça e você se perde”.

Um cristão mundano é um contratestemunho

O caminho indicado pelo Senhor, prosseguiu o Papa, é o do “despojamento”, como Ele fez. Para Jesus, disse ainda, esse trabalho com os discípulos custou-lhe muito tempo, porque eles não entendiam bem. Segundo o Papa, também os fiéis, hoje, devem pedir a Jesus que os ensine a seguir nesse caminho, nessa ciência do serviço. Essa ciência de humildade, de ser o último para servir os irmãos e irmãs na Igreja.

“É feio ver um cristão – seja leigo, consagrado, sacerdote ou bispo –, querer duas coisas: seguir Jesus e os bens, seguir Jesus e a mundanidade. Isso é um contratestemunho e distancia as pessoas de Cristo. Continuemos agora a celebração da Eucaristia, pensando na pergunta de Pedro. ‘Deixamos tudo: como nós pagará?’. E pensando na resposta de Jesus, o preço que Ele nos dará é sermos semelhantes a Ele. Esse será o ‘salário’.. Grande ‘salário’, assemelhar-se a Jesus!”.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

"Corrupção começa com o apego às riquezas, diz Papa"

Na Missa de hoje, Papa refletiu sobre a corrupção; ele lembrou que a riqueza não deve ser vivida de forma egoísta, mas sim colocada a serviço do bem comum

Da Redação, com Rádio Vaticano

Francisco explica que o apego às riquezas é o início de todos os tipos de corrupção / Foto: Arquivo – L’Osservatore Romano

É preciso colocar as riquezas a serviço do “bem comum”, pois uma abundância de bens vivida de forma egoísta tira a esperança e é a origem de todos os tipos de corrupção, grande ou pequena. Essa foi a reflexão central do Papa Francisco na homilia desta segunda-feira, 25, na capela da Casa Santa Marta, no Vaticano.

A cena que Francisco comentou na homilia é uma das mais famosas do Evangelho: o jovem rico encontra Jesus, pede para segui-Lo, assegura-Lhe viver plenamente os mandamentos. Mas, depois, muda completamente de humor e atitude quando o Mestre lhe fala do último passo a ser dado, a “única coisa” que falta: vender os bens, dá-los aos pobres e depois segui-Lo. De repente, a alegria e a esperança no jovem rico desaparecem, porque ele não quer renunciar àquela riqueza.

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“O apego às riquezas é o início de todos os tipos de corrupção, em todos os lugares: corrupção pessoal, corrupção nos negócios e também a pequena corrupção comercial, daqueles que tiram 50 gramas do peso correto, a corrupção política, a corrupção na educação … Por quê? Porque aqueles que vivem apegados ao próprio poder, às próprias riquezas, acreditam viver no paraíso. Estão fechados, não têm horizonte, não têm esperança. No fim deverão deixar tudo”.

O Santo Padre observou que há um mistério na posse das riquezas: elas têm a capacidade de seduzir e de fazer acreditar que a pessoa está em um paraíso terrestre. Mas esse paraíso terrestre, explicou, é um lugar sem horizonte, semelhante ao bairro que Francisco recorda ter visto na década de setenta, habitado por pessoas ricas que haviam fechado os confins para se defenderem dos ladrões.

“Viver sem horizonte é uma vida estéril, viver sem esperança é uma vida triste. O apego às riquezas nos dá tristeza e nos torna estéreis. Digo ‘apego’, não digo ‘administrar bem as riquezas’, pois elas são para o bem comum, são para todos. Se o Senhor dá a riqueza a uma pessoa, é para que ela possa usá-la para o bem de todos, não para si mesmo, não para que se feche em seu coração, tornando-se corrupta e triste”.

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As riquezas sem generosidade, ressaltou o Papa, fazem a pessoa acreditar que ela é poderosa como Deus. Mas, no fim, elas tiram o melhor, ou seja, a esperança. Jesus indica no Evangelho qual é a maneira justa para viver uma abundância de bens:

“A primeira bem-aventurança: bem-aventurados os pobres em espírito, ou seja, os despojados do apego, que fazem com que as riquezas que o Senhor lhe deu sejam para o bem comum. É a única maneira. Abrir a mão, abrir o coração e abrir o horizonte. Se você tem a mão fechada, tem o coração fechado como aquele homem que fazia banquetes e usava roupas luxuosas, você não tem horizontes, não vê os outros que precisam e vai terminar como aquele homem: distante de Deus”.

Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Missões 2015"


Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões 2015
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Domingo, 24 de maio de 2015

Boletim da Santa Sé

Queridos irmãos e irmãs,

Neste ano de 2015, o Dia Mundial das Missões tem como pano de fundo o Ano da Vida Consagrada, que serve de estímulo para a sua oração e reflexão. Na verdade, entre a vida consagrada e a missão subsiste uma forte ligação, porque, se todo o baptizado é chamado a dar testemunho do Senhor Jesus, anunciando a fé que recebeu em dom, isto vale de modo particular para a pessoa consagrada. O seguimento de Jesus, que motivou a aparição da vida consagrada na Igreja, é reposta à chamada para se tomar a cruz e segui-Lo, imitar a sua dedicação ao Pai e os seus gestos de serviço e amor, perder a vida a fim de a reencontrar. E, dado que toda a vida de Cristo tem carácter missionário, os homens e mulheres que O seguem mais de perto assumem plenamente este mesmo carácter.

A dimensão missionária, que pertence à própria natureza da Igreja, é intrínseca também a cada forma de vida consagrada, e não pode ser transcurada sem deixar um vazio que desfigura o carisma. A missão não é proselitismo, nem mera estratégia; a missão faz parte da «gramática» da fé, é algo de imprescindível para quem se coloca à escuta da voz do Espírito, que sussurra «vem» e «vai». Quem segue Cristo não pode deixar de tornar-se missionário, e sabe que Jesus «caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele. Sente Jesus vivo com ele, no meio da tarefa missionária» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 266).

A missão é uma paixão por Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, uma paixão pelas pessoas. Quando nos detemos em oração diante de Jesus crucificado, reconhecemos a grandeza do seu amor, que nos dignifica e sustenta e, simultaneamente, apercebemo-nos de que aquele amor, saído do seu coração trespassado, estende-se a todo o povo de Deus e à humanidade inteira; e, precisamente deste modo, sentimos também que Ele quer servir-Se de nós para chegar cada vez mais perto do seu povo amado (cf. Ibid., 268) e de todos aqueles que O procuram de coração sincero. Na ordem de Jesus – «Ide» –, estão contidos os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja. Nesta, todos são chamados a anunciar o Evangelho pelo testemunho da vida; e, de forma especial aos consagrados, é pedido para ouvirem a voz do Espírito que os chama a partir para as grandes periferias da missão, entre os povos onde ainda não chegou o Evangelho.

O cinquentenário do Decreto conciliar Ad gentes convida-nos a reler e meditar este documento que suscitou um forte impulso missionário nos Institutos de Vida Consagrada. Nas comunidades contemplativas, recobrou luz e eloquência a figura de Santa Teresa do Menino Jesus, padroeira das missões, como inspiradora da íntima ligação que há entre a vida contemplativa e a missão. Para muitas congregações religiosas de vida activa, a ânsia missionária surgida do Concílio Vaticano II concretizou-se numa extraordinária abertura à missão ad gentes, muitas vezes acompanhada pelo acolhimento de irmãos e irmãs provenientes das terras e culturas encontradas na evangelização, de modo que hoje pode-se falar de uma generalizada interculturalidade na vida consagrada. Por isso mesmo, é urgente repropor o ideal da missão com o seu centro em Jesus Cristo e a sua exigência na doação total de si mesmo ao anúncio do Evangelho. Nisto não se pode transigir: quem acolhe, pela graça de Deus, a missão, é chamado a viver de missão. Para tais pessoas, o anúncio de Cristo, nas múltiplas periferias do mundo, torna-se o modo de viver o seguimento d’Ele e a recompensa de tantas canseiras e privações. Qualquer tendência a desviar desta vocação, mesmo se corroborada por nobres motivações relacionadas com tantas necessidades pastorais, eclesiais e humanitárias, não está de acordo com a chamada pessoal do Senhor ao serviço do Evangelho. Nos Institutos Missionários, os formadores são chamados tanto a apontar, clara e honestamente, esta perspectiva de vida e acção, como a discernir com autoridade autênticas vocações missionárias. Dirijo-me sobretudo aos jovens, que ainda são capazes de testemunhos corajosos e de empreendimentos generosos e às vezes contracorrente: não deixeis que vos roubem o sonho duma verdadeira missão, dum seguimento de Jesus que implique o dom total de si mesmo. No segredo da vossa consciência, interrogai-vos sobre a razão pela qual escolhestes a vida religiosa missionária e calculai a disponibilidade que tendes para a aceitar por aquilo que é: um dom de amor ao serviço do anúncio do Evangelho, nunca vos esquecendo de que o anúncio do Evangelho, antes de ser uma necessidade para quantos que não o conhecem, é uma carência para quem ama o Mestre.

Hoje, a missão enfrenta o desafio de respeitar a necessidade que todos os povos têm de recomeçar das próprias raízes e salvaguardar os valores das respectivas culturas. Trata-se de conhecer e respeitar outras tradições e sistemas filosóficos e reconhecer a cada povo e cultura o direito de fazer-se ajudar pela própria tradição na compreensão do mistério de Deus e no acolhimento do Evangelho de Jesus, que é luz para as culturas e força transformadora das mesmas.

Dentro desta dinâmica complexa, ponhamo-nos a questão: «Quem são os destinatários privilegiados do anúncio evangélico?» A resposta é clara; encontramo-la no próprio Evangelho: os pobres, os humildes e os doentes, aqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, aqueles que não te podem retribuir (cf. Lc 14, 13-14). Uma evangelização dirigida preferencialmente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer: «existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 48). Isto deve ser claro especialmente para as pessoas que abraçam a vida consagrada missionária: com o voto de pobreza, escolhem seguir Cristo nesta sua preferência, não ideologicamente, mas identificando-se como Ele com os pobres, vivendo como eles na precariedade da vida diária e na renúncia ao exercício de qualquer poder para se tornar irmãos e irmãs dos últimos, levando-lhes o testemunho da alegria do Evangelho e a expressão da caridade de Deus.

Para viver o testemunho cristão e os sinais do amor do Pai entre os humildes e os pobres, os consagrados são chamados a promover, no serviço da missão, a presença dos fiéis leigos. Como já afirmava o Concílio Ecuménico Vaticano II, «os leigos colaboram na obra de evangelização da Igreja e participam da sua missão salvífica, ao mesmo tempo como testemunhas e como instrumentos vivos» (Ad gentes, 41). É necessário que os consagrados missionários se abram, cada vez mais corajosamente, àqueles que estão dispostos a cooperar com eles, mesmo durante um tempo limitado numa experiência ao vivo. São irmãos e irmãs que desejam partilhar a vocação missionária inscrita no Baptismo. As casas e as estruturas das missões são lugares naturais para o seu acolhimento e apoio humano, espiritual e apostólico.

As Instituições e as Obras Missionárias da Igreja estão postas totalmente ao serviço daqueles que não conhecem o Evangelho de Jesus. Para realizar eficazmente este objectivo, aquelas precisam dos carismas e do compromisso missionário dos consagrados, mas também os consagrados precisam duma estrutura de serviço, expressão da solicitude do Bispo de Roma para garantir de tal modo a koinonia que a colaboração e a sinergia façam parte integrante do testemunho missionário. Jesus colocou a unidade dos discípulos como condição para que o mundo creia (cf. Jo 17, 21). A referida convergência não equivale a uma submissão jurídico-organizativa a organismos institucionais, nem a uma mortificação da fantasia do Espírito que suscita a diversidade, mas significa conferir maior eficácia à mensagem evangélica e promover aquela unidade de intentos que é fruto também do Espírito.

A Obra Missionária do Sucessor de Pedro tem um horizonte apostólico universal. Por isso, tem necessidade também dos inúmeros carismas da vida consagrada, para dirigir-se ao vasto horizonte da evangelização e ser capaz de assegurar uma presença adequada nas fronteiras e nos territórios alcançados.

Queridos irmãos e irmãs, a paixão do missionário é o Evangelho. São Paulo podia afirmar: «Ai de mim, se eu não evangelizar!» (1 Cor 9, 16). O Evangelho é fonte de alegria, liberdade e salvação para cada homem. Ciente deste dom, a Igreja não se cansa de anunciar, incessantemente, a todos «O que existia desde o princípio, O que ouvimos, O que vimos com os nossos olhos» (1 Jo 1, 1). A missão dos servidores da Palavra – bispos, sacerdotes, religiosos e leigos – é colocar a todos, sem excluir ninguém, em relação pessoal com Cristo. No campo imenso da actividade missionária da Igreja, cada baptizado é chamado a viver o melhor possível o seu compromisso, segundo a sua situação pessoal. Uma resposta generosa a esta vocação universal pode ser oferecida pelos consagrados e consagradas através duma vida intensa de oração e união com o Senhor e com o seu sacrifício redentor.

Ao mesmo tempo que confio a Maria, Mãe da Igreja e modelo de missionariedade, todos aqueles que, ad gentes ou no próprio território, em todos os estados de vida, cooperam no anúncio do Evangelho, de coração concedo a cada um a Bênção Apostólica.

Vaticano, 24 de Maio – Solenidade de Pentecostes – de 2015.

FRANCISCUS

domingo, 24 de maio de 2015

"Papa fala das três ações do Espírito Santo nas pessoas"

O mundo tem necessidade de homens e mulheres que não estejam fechados, mas repletos de Espírito Santo”, disse o Papa, na celebração de Pentecostes

Da redação, com Rádio Vaticano

A Basílica de São Pedro esteve repleta de fiéis na manhã deste domingo, 24, para a celebração litúrgica de Pentecostes, presidida pelo Papa Francisco.

“O fechamento ao Espírito, segundo ele, não apenas é falta de liberdade, mas também pecado”, diz Francisco / Foto: Reprodução CTV

Na homilia, o Santo Padre falou das três ações do Espírito nas pessoas e comunidades que estão repletas d’Ele: “guiar para a verdade completa, renovar a terra e produzir os seus frutos”.

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O Papa explicou que no Evangelho Jesus promete aos seus discípulos o Espírito Santo que os há de “guiar para a verdade completa”, dizendo-lhes que a sua ação será introduzi-los sempre mais na compreensão daquilo que Ele, o Messias, disse e fez.

“Graças ao Espírito Santo, de que estão repletos, compreendem a verdade completa, ou seja, que a morte de Jesus não é a sua derrota, mas a máxima expressão do amor de Deus; um amor que, na Ressurreição, vence a morte e exalta Jesus como o Vivente, o Senhor, o Redentor do homem, da história e do mundo. E esta realidade, de que são testemunhas, torna-se a Boa Notícia que deve ser anunciada a todos”, explicou.

O Espírito Santo, além de ser guia, renova a terra, prosseguiu o Papa, reiterando que o Espírito que Cristo enviou do Pai e o Espírito que tudo vivifica são uma só e mesma Pessoa. “Por isso, o respeito pela criação é uma exigência da nossa fé: o ‘jardim’ onde vivemos foi nos confiado, não para o explorarmos, mas para o cultivarmos e guardarmos com respeito. Mas isto só será possível, se o homem se deixar renovar pelo Espírito Santo, se se deixar replasmar pelo Pai segundo o modelo de Cristo, novo Adão, para podermos viver a liberdade dos filhos em harmonia com toda a criação e, em cada criatura, podermos reconhecer o reflexo da glória do Criador”.

Por último, o Espírito dá os seus frutos, disse ainda o Papa, citando a Carta aos Gálatas na qual São Paulo mostra o “fruto” que se manifesta na vida daqueles que caminham segundo o Espírito:

“Temos, de uma parte, a carne com o cortejo dos seus vícios elencados pelo Apóstolo, que são as obras do homem egoísta, fechado à ação da graça de Deus; mas, de outra, há o homem que, com a fé, deixa irromper em si mesmo o Espírito de Deus e, nele, florescem os dons divinos, resumidos em nove radiosas virtudes que Paulo chama o ‘fruto do Espírito’”.

Segundo o Papa, o mundo tem necessidade de homens e mulheres que não estejam fechados, mas repletos de Espírito Santo. O fechamento ao Espírito, segundo ele, não apenas é falta de liberdade, mas também pecado.

Francisco ainda elencou algumas muitas maneiras de fechar-se ao Espírito Santo: “no egoísmo do próprio benefício, no legalismo rígido – como a atitude dos doutores da lei que Jesus chama de hipócritas –, na falta de memória daquilo que Jesus ensinou, no viver a existência cristã não como serviço mas como interesse pessoal, e assim por diante”.

“O mundo necessita da coragem, da esperança, da fé e da perseverança dos discípulos de Cristo. O mundo precisa dos frutos do Espírito Santo: ‘amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio’”, disse.

De acordo com Francisco, o dom do Espírito Santo foi concedido em abundância à Igreja e a cada fiel, para que se viva com “fé genuína e caridade operosa”, e espalhar as sementes da reconciliação e da paz.

Concluindo, o Papa rezou para que, “fortalecidos pelo Espírito e seus múltiplos dons, nos tornemos capazes de lutar, sem abdicações, contra o pecado e a corrupção e dedicar-nos, com paciente perseverança, às obras da justiça e da paz”.

sábado, 23 de maio de 2015

"As desigualdades humilham a dignidade humana, diz Papa"

Na manhã deste sábado, 23, o Papa Francisco recebeu na Sala Paulo VI cerca de 7 mil membros das Associações Cristãs de Trabalhadores Italianos (ACLI)

Rádio Vaticano

O Papa Francisco iniciou suas atividades, na manhã deste sábado, 23, recebendo no Vaticano, em audiências sucessivas, o Prefeito da Congregação para os Bispos, Cardeal Marc Ouellet; e os Primeiros Ministros da Bulgária, Bojko Borissov, e da Macedônia, Nikola Gruevski, com suas respectivas comitivas governamentais.

No final, o Papa encontrou, na Sala Paulo VI, cerca de 7 mil membros das Associações Cristãs de Trabalhadores Italianos (ACLI), por ocasião de seus 70 anos de fundação.

“Este aniversário é uma ocasião importante para refletir sobre a sua alma associativa e sobre as razões fundamentais que os impeliram e ainda impelem a vivê-las com dedicação e paixão. O que mudam no mundo global não são tanto os problemas, quanto a sua dimensão e urgência. Devemos propor alternativas equânimes e solidárias, que sejam realmente praticáveis”, disse o Santo Padre.

As desigualdades, a precariedade de trabalho, o trabalho sem carteira assinada e a extorsão criminosa, sobretudo entre as jovens gerações – frisou o Papa – humilham a dignidade, impedem a plenitude da vida humana e bradam por uma resposta solícita e vigorosa.

“Portanto, convido-os a realizar um sonho mais nobre: fazer com que, mediante um trabalho livre, criativo, participativo e solidário, o ser humano possa exprimir e engrandecer a dignidade da sua vida. Tais características fazem parte da história de suas Associações e hoje, mais do que nunca, devem ser colocadas em prática a serviço de uma vida mais digna para todos”, exortou.

Neste sentido, o Pontífice recordou alguns aspectos que devem ser levados em consideração: acolher as jovens gerações, que batem à porta da Itália, em busca de um futuro melhor; fazer uma aliança nova contra a pobreza, propondo um plano nacional para um trabalho decente e digno; rever e aplicar a Doutrina Social da Igreja diante dos novos desafios da sociedade.

O Papa conclui dizendo: “A inspiração cristã e a dimensão popular determinam o modo de compreender e atualizar a tríplice fidelidade histórica das Associações para com os trabalhadores, a democracia, a Igreja. No contexto atual, poderíamos dizer que estes três aspectos se resumem em uma fidelidade nova e sempre vigente: a fidelidade aos pobres”.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

"Todos nós estamos sob o olhar de Jesus", diz Papa

Na homilia, o Papa capta três olhares diferentes de Jesus sob o apóstolo Pedro: o olhar do entusiasmo, do arrependimento e da missão

Rádio Vaticano

“Ele sempre olha para nós com amor. Ele nos pede algo, perdoa-nos e nos dá uma missão”, diz Papa Francisco. / Fonte: L’Osservatore Romano

Qual é, hoje, o olhar de Jesus sobre mim? O Papa desenvolveu sua homilia matutina desta sexta-feira, 22, na Casa Santa Marta, comentando o diálogo entre Jesus e Pedro narrado pelo Evangelho.

Jesus ressuscitado prepara algo para Seus discípulos comerem e, depois da refeição, tem início um intenso diálogo com Pedro. Nesse episódio, Francisco disse captar três olhares diferentes do Senhor sob o apóstolo: o olhar da eleição, do arrependimento e, por fim, da missão.

O entusiasmo

No início do Evangelho de João, André vai até seu irmão e lhe diz: “Encontramos o Messias”. Há um olhar de entusiasmo. Jesus fixa o Seu olhar sobre ele e diz: “Tu és Simão, o filho de João. Chamar-te-ás Cefas”.

“É o primeiro olhar da missão”. Há, portanto, o primeiro olhar: a vocação e um primeiro anúncio da missão. “E como está a alma de Pedro neste primeiro olhar?”, perguntou o Pontífice. “Entusiasta. A primeira etapa de partir com o Senhor”.

O arrependimento

A seguir, o Papa dirigiu seu olhar para a noite dramática da Quinta-feira Santa, quando Pedro renega Jesus três vezes: “Perdeu tudo. Perdeu o seu amor e, quando o Senhor cruzou o seu olhar, ele chorou”.

“O Evangelho de Lucas diz: ‘E Pedro chorou amargamente’. Aquele entusiasmo de seguir Jesus se tornou choro, porque ele pecou, ele renegou Jesus. Aquele olhar muda o coração de Pedro, mais do que antes. A primeira mudança é a troca de nome e também de vocação. Esse segundo olhar transforma o coração e é uma mudança de conversão ao amor”.

Francisco acrescenta dizendo que há o olhar do encontro depois da Ressurreição. “Sabemos que Jesus encontrou Pedro, diz o Evangelho, mas não sabemos o que foi dito”, observou.

A missão

O Pontífice afirma que o olhar do Evangelho de hoje “é um terceiro olhar: o olhar é a confirmação da missão, mas também o olhar no qual Jesus pede confirmação sobre o amor de Pedro. Três vezes o Senhor pede ao apóstolo a manifestação do seu amor e exorta-o a apascentar suas ovelhas. Na terceira pergunta, Pedro ficou triste e quase chorou”.

“Entristecido, porque, pela terceira vez, lhe perguntava: ‘Você me ama?’, e ele diz: Mas, Senhor, tu sabes tudo. Tu sabes que eu te amo’. Jesus respondeu-lhe: ‘Apascenta as minhas ovelhas’.”

Este é o terceiro olhar, o olhar da missão. O primeiro, o olhar da eleição, com o entusiasmo de seguir Jesus; o segundo, o olhar de arrependimento no momento daquele pecado tão grave de ter negado Jesus; o terceiro olhar é o olhar da missão.

Deixemo-nos olhar por Jesus

Mas, disse o Papa, ainda não acabou. Jesus vai mais além e diz a Pedro: “Você faz tudo isso por amor, e depois? Você vai ser coroado rei? Não”. Jesus diz a Pedro que ele também deverá segui-Lo no caminho da cruz.

“Também nós podemos pensar: qual é hoje o olhar de Jesus sobre nós? Como Ele olha para nós? Com uma chamada? Com um perdão? Com uma missão? Mas, no caminho que Ele fez, todos nós estamos sob o olhar de Jesus.”

“Ele sempre olha para nós com amor. Ele nos pede algo, perdoa-nos e dá-nos uma missão. Agora, Jesus está sobre o altar. Cada um de nós pense: ‘Senhor, Tu estás aqui, entre nós. Fixa o Teu olhar em mim e me diga o que devo fazer. Como devo chorar os meus erros, os meus pecados? Com qual coragem devo continuar no caminho que Tu fizeste por primeiro?”.

O Papa Francisco conclui dizendo que, neste dia, fará bem a todos reler esse diálogo com o Senhor e pensar “no olhar de Jesus sobre nós”.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

"Papa: cristãos devem buscar a unidade, não guerra e divisão"

Na homilia de hoje, Papa lembrou que cristãos são chamados a pedir a unidade e não deixar que se insinue entre eles o espírito da guerra

Da Redação, com Rádio Vaticano 

Francisco reza, na Missa de hoje, pela unidade cristã / Foto: L’Osservatore Romano

Na Semana em que, no hemisfério sul, se reza pela unidade cristã, o Papa Francisco dedicou sua homilia a essa causa na quinta-feira, 21. Ele reiterou que os cristãos são chamados a pedir a graça da unidade e a lutar para que não haja, entre eles, o espírito de divisão, de guerra e ciúmes. A Missa foi celebrada, como de costume, na capela da Casa Santa Marta.

Francisco fez a homilia a partir da liturgia do dia, que mostra a atmosfera do Cenáculo e a densidade das palavras que Cristo pronunciou e confiou aos apóstolos antes de se entregar à Paixão.

Nesses trechos, Jesus faz uma oração para que a Igreja seja unida, que os cristãos “sejam uma só coisa”, como Jesus o é com o seu Pai. Cristo também fala da “grande tentação”, rezando para que os fiéis não cedam ao “pai da mentira e da divisão”.

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É consolador, observou Francisco, ouvir Jesus dizer ao Pai que não quer rezar somente pelos seus discípulos, mas também por aqueles que acreditarão n’Ele mediante a sua palavra. Uma frase ouvida tantas vezes, para a qual o Papa pediu uma atenção especial.

“Talvez nós não sejamos suficientemente atentos a essas palavras: Jesus rezou por mim! Isso é propriamente fonte de confiança: Ele reza por mim, rezou por mim… Eu imagino – mas é uma figura – como está Jesus diante do Pai, no Céu. É assim: reza por nós, reza por mim. E o que vê o Pai? As chagas, o preço que pagou por nós. Jesus rezou por mim com as suas chagas, com o seu coração ferido e continuará a fazê-lo”.

As faces da divisão

Francisco explicou ainda que Jesus reza pela unidade do seu povo, pela Igreja, mas sabe que o espírito do mundo é um espírito de divisão, de guerra, de invejas, ciúmes, também nas famílias, nas famílias religiosas, nas dioceses, bem como em toda a Igreja: é a “grande tentação”. E isso leva, disse o Papa, a fofocas, a etiquetar e rotular as pessoas. São atitudes que a oração de Jesus pede que sejam banidas.

“Devemos ser um, uma só coisa, como Jesus e o Pai são uma só coisa. Este é precisamente o desafio de todos nós cristãos: não dar lugar à divisão entre nós, não deixar que o espírito da divisão, o pai da mentira, entre em nós. Procurar sempre a unidade. Cada um é como é, mas procura viver em unidade. Jesus perdoou você? Perdoa todos. Jesus reza para que nós sejamos um, uma só coisa. E a Igreja tem grande necessidade desta oração de unidade”.

Unidade é graça não “cola”

Não existe, brincou o Papa, uma igreja mantida unida pela “cola”, porque a unidade que Jesus pede é uma graça de Deus e uma luta sobre a terra. É preciso, então, dar espaço ao Espírito para que cada um possa ser transformado.

“E outro conselho que Jesus deu nestes dias de despedida é permanecer n’Ele: ‘Permanecei em mim’ ‘. Ele pede esta graça, que todos nós permaneçamos n’Ele. E aqui nos indica por que, e diz claramente: ‘Pai, eu quero que aqueles que me destes, também eles estejam comigo onde eu estou’. Isto é, que eles permaneçam lá, comigo. O permanecer em Jesus, neste mundo, termina no permanecer com Ele ‘para que contemplem a minha glória’”.

"Papa destaca a missão da polícia: sair de si rumo ao próximo"

Nesta quinta-feira, 21, o Papa Francisco se encontrou com cerca de 600 familiares de policiais da Itália, que foram feridos ou mortos em serviço

Rádio Vaticano

Papa destaca a missão da polícia: sair de si rumo ao próximo.

O Papa recebeu na manhã desta quinta-feira, 21, cerca de 600 familiares de policiais da Itália que foram feridos ou mortos em serviço.

Em seu discurso, Francisco definiu a profissão policial como uma “missão autêntica”, que comporta o acolhimento e a aplicação de atitudes e valores de relevância especial para a vida civil, como a disciplina, a disponibilidade ao sacrifício, o combate à criminalidade organizada e ao terrorismo.

“Quem assume a seriedade e o empenho do próprio trabalho e o coloca à disposição da comunidade, especialmente de quem está em perigo ou se encontra em situações de grave dificuldade, sai rumo ao próximo e o serve. Agindo deste modo, realiza a própria vida, inclusive na eventualidade de perdê-la, como fez Jesus morrendo na cruz.”

O Papa acrescenta dizendo que somente contemplando o Crucificado que poderá encontrar a força do perdão, conscientes de que cada sacrifício encontrará n’Ele resgate e redenção.

De modo especial, o Santo Padre louvou a contribuição decisiva que a polícia italiana tem dado nos últimos anos em administrar o impacto do fluxo de imigrantes que chegam à Itália, em busca de refúgio de guerras e perseguições. “Vocês estão na linha de frente, seja no acolhimento inicial dos migrantes, seja na obra de combate dos traficantes sem escrúpulos”, disse.

“Queridos irmãos e irmãs, sejam corajosos em seu trabalho e continuem a servir o Estado e todo cidadão e pessoa em perigo. Ao defender os fracos e a legalidade, encontrarão o sentido mais verdadeiro de seu serviço e serão um exemplo para o país”, encorajou por fim o Pontífice.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

"Papa Francisco saúda chineses e cristãos perseguidos"

O Papa Francisco recordou que em 24 de maio, os católicos na China rezarão com devoção à Bem-Aventurada Virgem Maria 

Rádio Vaticano

Nas saudações aos grupos presentes na Praça São Pedro, na Audiência Geral desta quarta-feira, 20, Francisco citou de modo especial o recém-eleito Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), o Cardeal Rubén Salazar Gómez, Arcebispo de Bogotá e Primaz da Colômbia, desejando-lhe bom trabalho.

O Papa recordou que em 24 de maio, os católicos na China rezarão com devoção à Bem-Aventurada Virgem Maria, Auxílio dos Cristãos, venerada no Santuário de Shesham, em Xangai. Neste Santuário, a imagem de Maria levanta seu Filho, apresentando-o ao mundo em gesto de amor e de misericórdia.

“Também nós pediremos a Maria que ajude os católicos na China a serem sempre testemunhas críveis deste amor misericordioso em meio a seu povo e a viver espiritualmente unidos à rocha de Pedro sobre a qual a Igreja foi construída.”

Francisco citou ainda uma iniciativa promovida pela Conferência Episcopal Italiana, que propôs às Dioceses uma vigília de oração, por ocasião de Pentecostes, pelos cristãos exilados ou mortos por causa da fé. “São mártires”, acrescentou.

“Faço votos que este momento de oração aumente a consciência de que a liberdade religiosa é um direito humano inalienável, aumente a sensibilização sobre o drama dos cristãos perseguidos no nosso tempo e que se ponha fim a este crime inaceitável.”

"Europa: Vaticano critica atentados à liberdade religiosa"

Para os representantes do Vaticano, negar a alguém a possibilidade de expressar em público as suas convicções religiosas é intolerante

Agência Ecclesia

O Vaticano mostrou, junto da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), na Áustria, a sua preocupação pelos crescentes atentados à liberdade religiosa na região / Fonte: Agência Ecclesia

O Vaticano mostrou, junto da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), na Áustria, a sua preocupação pelos crescentes atentados à liberdade religiosa na região.

“Os cristãos são frequentemente recordados no seu cotidiano ou mesmo nos tribunais que podem acreditar no que quiserem em privado, e praticar a sua religião como quiserem nas suas igrejas, mas não podem atuar de acordo com a sua fé em público”, apontou a Santa Sé junto do organismo.

Nesse sentido, a delegação do Vaticano na capital austríaca exortou os 56 países que integram a OSCE (que engloba também EUA, Canadá e nações da Ásia Central) para “que atuem contra este gênero de crimes e protejam as comunidades cristãs presentes nos seus territórios”.

Esta declaração, sob a defesa do representante permanente do Vaticano na OSCE, monsenhor Janusz Urbáczyk, foi feita durante uma conferência em Viena, Áustria, sobre a intolerância e discriminação contra os cristãos na Europa.

A iniciativa foi acompanhada por responsáveis do Conselho das Conferências Episcopais da Europa que, em comunicado, deram conta das principais ideias que saíram do encontro.

“Embora felizmente o Velho Continente não seja atualmente palco do gênero de atrocidades que são cometidas contra cristãos um pouco por todo o mundo, o território europeu está a ser palco de situações particularmente preocupantes, de intolerância e repressão”, referiu a delegação do Vaticano.

Para os representantes da Santa Sé, “negar a alguém a possibilidade de expressar em público as suas convicções religiosas é intolerante, antidemocrático e antirreligioso”.

Nesse sentido, desafiaram os membros da OSCE a denunciarem todos os incidentes que aconteçam neste campo e a “empenharem-se seriamente em garantir que todos os cidadãos, incluindo os cristãos, possam viver em paz, professar e praticar livremente a sua fé”.

O Conselho das Conferências Episcopais da Europa, que integra também o episcopado português, esteve representado na conferência em Viena através do secretário-geral adjunto da CCEE, padre Michel Remery.

"Catequese do Papa sobre a educação dos filhos - 20/05/15"

Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal – equipe CN Notícias

Hoje, queridos irmãos e irmãs, desejo dar-vos as boas vindas porque vi entre vocês tantas famílias, bom dia a todas as famílias! Continuamos a refletir sobre família. Hoje nos concentraremos em refletir sobre uma característica essencial da família, ou seja, a sua vocação natural para educar os filhos para que cresçam na responsabilidade de si e dos outros. Aquilo que ouvimos do apóstolo Paulo, no início, é tão belo: “Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isso agrada ao Senhor. Pais, deixai de irritar vossos filhos, para que não se tornem desanimados” (Col 3, 20-21). Esta é uma regra sábia: o filho que é educado a escutar os pais e a obedecer aos pais, os quais não devem operar de maneira bruta, para não desanimar os filhos. Os filhos, de fato, devem crescer sem se desanimar, passo a passo. Se vocês pais dizem aos seus filhos: “Vamos subir nessa escada” e pegam a mão deles e passo após passo os fazem subir, as coisas irão bem. Mas se vocês dizem: “Vá em frente!” – “Mas não posso” – “Vá!”, isso se chama irritar os filhos, pedir aos filhos as coisas que não são capazes de fazer. Por isso, a relação entre pais e filhos deve ser de uma sabedoria, de um equilíbrio tão grande. Filhos, obedeçam aos pais, isso agrada a Deus. E vocês pais, não irritem os filhos, pedindo-lhes coisas que não podem fazer. E isso é necessário ser feito para que os filhos cresçam na responsabilidade de si e dos outros.

Pareceria uma constatação óbvia, mas mesmo nos nossos tempos não faltam as dificuldades. É difícil educar para os pais que veem os filhos somente à noite, quando voltam para casa cansados do trabalho. Aqueles que têm a sorte de ter um trabalho! É ainda mais difícil para os pais separados, que estão pesarosos com esta condição: coitados, tiveram dificuldade, se separaram e tantas vezes o filho é tomado como um refém e o pai fala mal da mãe e a mãe fala mal do pai, e isso faz tanto mal. Mas eu digo aos pais separados: nunca, nunca, nunca tomem o filho como refém! Vocês se separaram por tantas dificuldades e motivos, a vida deu essa prova a vocês, mas os filhos não sejam os que levam o peso dessa separação, não sejam usados como reféns contra o outro cônjuge, cresçam ouvindo que a mãe fala bem do pai, embora não estejam juntos, e que o pai fala bem da mãe. Para os pais separados, isso é muito importante e muito difícil, mas podem fazê-lo.

Mas, sobretudo, a pergunta: como educar? Quais tradições temos hoje para transmitir aos nossos filhos?

Intelectuais “críticos” de todo tipo silenciaram os pais de mil modos, para defender as jovens gerações de danos – verdadeiros ou presumidos – da educação familiar. A família foi acusada, entre outros, de autoritarismo, de favoritismo, de conformismo, de repressão afetiva que gera conflitos.

De fato, se abriu uma fratura entre família e sociedade, entre família e escola, o pacto educativo hoje se rompeu; e assim, a aliança educativa da sociedade com a família entrou em crise porque foi ameaçada a confiança recíproca. Os sintomas são muitos. Por exemplo, na escola, foram afetadas as relações entre os pais e os professores. Às vezes, há tensões e desconfiança recíproca, e as consequências naturalmente caem sobre os filhos. Por outro lado, se multiplicaram os chamados “especialistas”, que ocuparam o papel dos pais também nos aspectos mais íntimos da educação. Sobre a vida afetiva, sobre personalidade e o desenvolvimento, sobre direitos e sobre deveres, os “especialistas” sabem tudo: objetivos, motivações, técnicas. E os pais devem somente escutar, aprender e se adequar. Privados do seu papel, esses se tornam muitas vezes excessivamente apreensivos e possessivos nos confrontos com seus filhos, até não os corrigir nunca: “Você não pode corrigir o filho”. Tendem a confiá-los sempre mais aos “especialistas”, também sobre os aspectos mais delicados e pessoais da vida, colocando-os no canto sozinhos; e assim os pais hoje correm o risco de se auto-excluir da vida os seus filhos. E isso é gravíssimo! Hoje, há casos deste tipo. Não digo que acontece sempre, mas há. A professora na escola reprova o menino e faz uma anotação para os pais. Eu recordo um acontecimento pessoal. Uma vez, quando eu estava na quarta série, disse uma palavra feia para a professora e ela, uma mulher brava, chamou minha mãe. Ela foi no dia seguinte, falaram entre si e depois fui chamado. E minha mãe, diante da professora, me explicou que aquilo que eu fiz foi uma coisa ruim, que não se devia fazer; mas a mãe o fez com tanta doçura e me pediu para pedir perdão diante dela à professora. Eu o fiz e depois fiquei contente porque disse: terminou bem a história. Mas aquele era o primeiro capítulo! Quando voltei pra casa, comecei o segundo capítulo…Imaginem vocês, se a professora faz uma coisa desse tipo, no dia seguinte os dois pais ou um deles a reprova, porque os “especialistas” dizem que as crianças não devem ser repreendidas assim. As coisas mudaram! Portanto, os pais não devem se auto-excluir da educação dos filhos.

É evidente que esta abordagem não é boa: não é harmônica, não é dialógica e em vez de favorecer a colaboração entre a família e as outras agências educativas, as escolas, as palestras…as contrapõem.

Como chegamos a esse ponto? Não há dúvidas de que os pais, ou melhor, certos modelos educativos do passado tinham alguns limites, não há dúvida. Mas é também verdade que há erros que somente os pais são autorizados a fazer, porque podem compensá-los de um modo que é impossível a qualquer outro. Por outro lado, sabemos bem disso, a vida se tornou mesquinha de tempo para falar, refletir, confrontar-se. Muitos pais são “sequestrados” pelo trabalho – pai e mãe devem trabalhar – e por outras preocupações, envergonhados por novas exigências dos filhos e pela complexidade da vida atual – que é assim, devemos aceitá-la como é – e se encontram meio que paralisados pelo medo de errar. O problema, porém, não é só falar. Antes, um “dialoguismo” superficial não leva a um verdadeiro encontro da mente e do coração. Perguntemo-nos, em vez disso: procuramos entender “onde” os filhos estão verdadeiramente em seu caminho? Onde está realmente a alma deles, sabemos? E sobretudo: queremos saber? Estamos convencidos de que esses, na realidade, não esperam outra coisa?

As comunidades cristãs são chamadas a oferecer apoio à missão educativa das famílias, e o fazem antes de tudo com a luz da Palavra de Deus. O apóstolo Paulo recorda a reciprocidade dos deveres entre pais e filhos: “Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isso agrada ao Senhor. Pais, deixai de irritar vossos filhos, para que não se tornem desanimados” (Col 3, 20-21). Na base de tudo está o amor, aquele que Deus nos dá, que “não falta com respeito, não procura o próprio interesse, não fica com raiva, não faz conta do mal recebido…tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Cor 13, 5-6). Mesmo nas melhores famílias é preciso suportar-se e é preciso tanta paciência para se suportar! Mas a vida é assim. A vida não se faz em laboratório, se faz na realidade. O próprio Jesus passou pela educação familiar. Também nesse caso, a graça do amor de Cristo leva à realização isso que está inscrito na natureza humana. Quantos exemplos maravilhosos temos de pais cristãos cheios de sabedoria humana! Esses mostram que a boa educação familiar é a coluna vertebral do humanismo. A sua irradiação social é o recurso que permite compensar as lacunas, as feridas, os vazios de paternidade e maternidade que tocam os filhos menos afortunados. Essa irradiação pode fazer autênticos milagres. E na Igreja acontecem todos os dias estes milagres!

Desejo que o Senhor dê às famílias cristãs a fé, a liberdade e a coragem necessárias para a sua missão. Se a educação familiar encontra o orgulho do seu protagonismo, muitas coisas mudarão para melhor, para os pais incertos e para os filhos desiludidos. É hora dos pais e das mães retornarem do seu exílio – porque se exilaram da educação dos filhos – e reassumirem plenamente o seu papel educativo. Esperamos que o Senhor dê aos pais esta graça: de não se auto-exilar na educação dos filhos. E isto somente o amor, a ternura e a paciência podem fazer.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Papa reflete sobre o significado, para o cristão, do “adeus”

Na homilia de hoje, Francisco refletiu sobre as várias despedidas que existem na vida, inclusive a última, quando é preciso dizer “adeus” e entregar-se a Deus

Da Redação, com Rádio Vaticano

Francisco explica o que significa, para o cristão, dizer “adeus” / Foto: L’Osservatore Romano

Na manhã desta terça-feira, 19, o Papa Francisco celebrou a Missa na Casa Santa Marta colocando no centro da homilia o discurso de Jesus antes da Paixão e a despedida de Paulo em Mileto antes de ir a Jerusalém. O Pontífice se inspirou nas leituras do dia para falar o que significa dizer adeus para um cristão.

“Jesus se despede, Paulo se despede, e isso nos ajudará a refletir sobre nossas despedidas”, disse o Papa, lembrando que, na vida, existem pequenas e grandes despedidas, além de muito sofrimento e lágrimas. Como exemplo, ele citou a realidade dos que são vítimas das perseguições e obrigados a fugir.

“Pensemos hoje naqueles pobres de etnia rohingya de Mianmar. No momento de deixar suas terras para fugir das perseguições, não sabiam o que lhes aconteceria. E há meses estão numa embarcação, ali… Chegam a uma cidade, onde lhes dão água e alimentos, e dizem: ‘vão embora daqui’. É uma despedida. Aliás, hoje acontece esta grande despedida existencial. Pensem na despedida dos cristãos e dos iezites (cristãos iraquianos, ndr), que acreditam não poder voltar mais para sua terra, porque foram expulsos de casa hoje.”

Francisco mencionou também outros tipos de despedida, como aquela da mãe, que saúda e dá o último abraço no filho que parte para a guerra. Essa mãe se levanta todos os dias com o medo de que alguém lhe diga: “Agradecemos muito pela generosidade de seu filho, que deu a vida pela pátria”. E há também a “última despedida, que todos devem fazer quando o Senhor chama para o outro lado. Eu penso nisto”.

O momento do adeus

O Santo Padre explicou que essas grandes despedidas da vida, inclusive a última, não são como um ‘até logo’, ‘até breve’, que são as despedidas que indicam um regresso imediato ou depois de uma semana: são despedidas que não se sabe quando e como voltar. Ele recordou que o tema do adeus está presente também nas artes e nas músicas.

“Vem-me uma em mente, a dos alpinos, quando o capitão se despedia dos seus soldados: o testamento do capitão. Eu penso na grande despedida, na minha grande despedida, não quando digo, ‘até depois’, ‘até mais tarde’, ‘até breve’, mas ‘adeus’? Estes dois textos dizem a palavra ‘adeus’. Paulo confia a Deus os seus companheiros e Jesus confia ao Pai os Seus discípulos, que permanecem no mundo. ‘Eles não são do mundo, mas cuida deles’. Confiar ao Pai, confiar a Deus: esta é a origem da palavra ‘adeus’. Nós dizemos ‘adeus’ somente nas grandes despedidas, sejam as despedidas da vida, seja a última”.

Segundo Francisco, faz bem pensar na despedida deste mundo. “Eu creio que, com estes dois ícones – o de Paulo, que chora de joelhos na praia, todos ali, e Jesus triste, porque ia para a Paixão com os Seus discípulos, chorando no Seu coração – podemos pensar na nossa despedida. Vai nos fazer bem. Quem será a pessoa que vai fechar os meus olhos?”.

A entrega a Deus

Pensar na despedida implica refletir sobre o que cada um vai deixa para esta terra. Francisco explicou que tanto Paulo como Jesus fazem uma espécie de exame de consciência e é bom para cada um se imaginar nesse momento.

“Quando será, não sabemos, mas haverá o momento no qual ‘até depois’, ‘até breve’, ‘até amanhã’, ‘até mais’ vai se tornar ‘adeus’. Estou preparado para confiar a Deus todos os meus entes queridos? Para confiar-me a Ele? Para dizer aquela palavra que é a palavra da entrega do filho ao Pai?”

O Papa concluiu a homilia aconselhando todos a lerem as leituras de hoje sobre a despedida de Jesus e de Paulo e a pensar que, um dia, cada um deverá dizer a palavra “adeus”. “A Deus confio a minha alma, confio a minha história; a Ele confio os meus entes queridos; a Deus confio tudo (…) Que Jesus morto e ressuscitado envie-nos o Espírito Santo, para que aprendamos a palavra, aprendamos a dizê-la, existencialmente, com toda a força, a última palavra: adeus”.

"Discípulos de Cristo devem buscar a unidade, diz Padre"

Na Semana de Oração pela Unidade Cristã, padre Mário Marcelo enfatiza que quem pertence ao corpo de Cristo não pode dar testemunho de individualismo


Padre Mário Marcelo Coelho, scj
Doutor em Teologia Moral
Padre Mário Marcelo / Foto: Arquivo

A cada ano a Igreja no Brasil, durante a semana que antecede a Solenidade de Pentecostes, celebra a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (SOUC). O Concílio Vaticano II afirma que a oração é a “alma do movimento ecumênico” (Unitatis Redintegratio – U.R., 8). O Decreto U.R. número 24, em sua conclusão geral, expressa o desejo e a esperança de quem acredita na realização do pedido de Jesus em favor da unidade cristã, “Para que todos sejam um” (João 17,20-26). O Concílio exorta a todos os fiéis a buscarem o verdadeiro encontro na unidade.

O texto inspiração da SOUC deste ano de 2015 é fundamentado no apelo feito por Jesus à mulher samaritana: “Dá-me de beber” (João 4,7), inspirado na passagem do Evangelho de João que mostra o encontro de Cristo com a samaritana no poço de Jacó, como ícone do amor que quebra preconceitos religiosos e culturais, que abre ao diálogo na diversidade e que revela a importância do acolhimento e da partilha de dons como expressão da necessária comunhão que deve existir, entre cristãos das diversas Igrejas. A súplica que a samaritana faz a Jesus, para que todos os cristãos possam beber da água viva que Ele derrama em sua Igreja e em nossos corações. Igreja de Jesus Cristo dividida não evangeliza, dispersa e dá contratestemunho do Mandamento do Amor.

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Para tornar mais clara a exigência da unidade, Paulo utiliza uma comparação: a alegoria do corpo e dos seus membros. Paulo compara a comunidade cristã a um corpo. Esse corpo é constituído por uma pluralidade diversificada de membros, cada um com a sua tarefa, isto é, com o seu “carisma” específico. O fato dos membros serem vários e distintos consiste na riqueza da unidade. Esta riqueza da diversidade é que permite a sobrevivência de todo o corpo. É na comunhão da diversidade que a pessoa humana desenvolve plenamente a sua condição de cristão na comunidade.

Na comunidade, os membros necessitam uns dos outros e se preocupam uns com os outros. A unidade fundamental, a verdadeira comunhão deve sempre estar de braços dados com o pluralismo de dons e carismas e preocupado com o bem comum. Paulo identifica este corpo “comunidade” com Cristo (1Cor 12,12-30). A comunidade cristã é o corpo de Cristo (“vós sois corpo de Cristo e seus membros” – v 27), por isto neste corpo tem de manifestar-se o Cristo total. Ora, pode Cristo estar dividido? Pode a comunidade estar dividida? Pode a comunidade viver com conflitos e rivalidades? Quem se diz pertencer ao corpo de Cristo não pode dar testemunho de egoísmo, de individualismo, de orgulho, de rivalidades, de autossuficiência, de desprezo pelos membros da comunidade e sobretudo pelos pobres e fracos.

O corpo de Cristo (a Igreja) é, pois, uma comunidade de irmãos, que de Cristo recebem e partilham a vida que os une; sendo uma pluralidade de membros, com diversas funções, respeitam-se, apoiam-se, são solidários uns com os outros e se amam. Princípios importantes para configurar as relações próprias deste corpo de Cristo que é a Igreja são a caridade, justiça, solidariedade, participação, corresponsabilidade e comunhão de irmãos. Paulo afirma também que todos os membros do corpo desempenham funções importantes para o equilíbrio e harmonia do todo e para a realização do bem comum.

Palavras do Papa sobre a unidade dos cristãos:

A Igreja é o corpo de Cristo onde se manifesta, na diversidade de membros e de funções, a unidade, a partilha, a solidariedade, o amor, que são essenciais à proposta salvadora que Cristo nos apresenta. Paulo ensina que não existem finalidades individuais dentro da comunidade, mas tudo é direcionado a construir o único “Corpo de Cristo”, em vista do projeto divino do Reino.

A nossa comunidade cristã é uma família de irmãos, que vivem em comunhão, que se respeitam e que se amam. Por isto é inaceitável para a vida cristã comunidades divididas pela inveja, interesses egoístas e mesquinhos, e desprezo pelos outros. O cristão deve usar dos carismas que Deus lhe confia para o serviço e promoção dos irmãos e para o crescimento da comunidade.

Na vida em comunidade, os vários membros vivem em comunhão solidária, numa efetiva solidariedade com os seus membros. Os dramas e os sofrimentos, as alegrias e as esperanças dos nossos irmãos deverão ser sentidos por todos os membros desse corpo, ou seja, da comunidade. Cada irmão deve sentir-se corresponsável na construção dessa comunidade da qual somos membros e desempenhamos, com responsabilidade, a nossa missão.
Na carta aos Efésios (4,1-6), Paulo afirma ainda que a Igreja é um “corpo”, o “Corpo de Cristo”. Naturalmente, esse “corpo” é formado por muitos membros, todos eles diversos; mas todos eles dependem de Cristo, a “cabeça” desse “corpo”, e recebem d’Ele a mesma vida. Formam, portanto, uma unidade. Têm o mesmo Pai (Deus), têm um projeto comum, o de Jesus, têm o mesmo objetivo, fazer parte da família de Deus e encontrar a vida em plenitude, caminham na mesma direção animados pelo mesmo Espírito, têm a mesma missão que é dar testemunho no mundo do projeto de amor que Deus tem para os homens.

O discípulo de Cristo deve lutar por esta Unidade e esta Paz. É preciso desejar, decidir e construir a Unidade. Para que a unidade seja possível, Paulo recomenda aos discípulos de Cristo (Ef 4,1-6) a humildade, a mansidão e a paciência.

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos quer oferecer um privilegiado momento para oração, encontro e diálogo entre cristãos de diferentes Igrejas. Quer ser uma oportunidade para reconhecer a riqueza e o valor que estão presentes no outro, no diferente, e para pedir a Deus o dom da unidade.