terça-feira, 24 de novembro de 2015

Papa Francisco visita o Banco do Vaticano


Visita rápida ao Banco do Vaticano foi nesta manhã; Papa anunciou novo diretor-geral para o Instituto

Rádio Vaticano

Papa reunido com a superintendência do Banco do Vaticano / Foto: l’Osservatore Romano

Na manhã desta terça-feira, 24, o Papa Francisco visitou o Instituto para as Obras de Religião, o chamado “Banco Vaticano”. O Santo Padre chegou à sede do IOR por volta das 10h30 (hora local) e se reuniu com o Conselho de superintendência por cerca de 20 minutos. Durante a visita, o Pontífice nomeou pessoalmente o novo diretor-geral do Instituto, Gianfranco Mammí.

Papas na África: visitas mostram atenção da Igreja com o continente

O continente africano já recebeu a visita de outros três papas antes de Francisco; a partir desta quarta-feira, o Santo Padre visitará Quênia, Uganda e República Centro-Africana

Da redação

Papa Francisco será o quarto Pontífice a visitar a África, em uma viagem que começa nesta quarta-feira, 25. A Igreja Católica tem grande atenção ao continente africano, visitado já por três Pontífices.

Paulo VI foi o primeiro a visitar a África em 1969. Seu sucessor, João Paulo II visitou 38 países, mais da metade do continente. Inclusive os três que serão visitados por Francisco: Quênia em 1980, 1985 e 1995, Uganda em 1993 e a República Centro-africana em 1985 e 1995.

Também Bento XVI fez questão de visitar o povo africano. Ele esteve em Camarões e Angola em 2009 e Benin em 2011.

Saiba mais sobre as visitas dos Papas anteriores:
Paulo VI

Paulo VI visitou o continente somente uma vez, esteve em Uganda de 31 de julho a 2 de agosto de 1969, mas a herança deixada por ele foi tamanha que até hoje é discutida.

Um Congresso no Quênia, em 2012, aprofundou a relação de Paulo VI e a Igreja na África. Também no Vaticano, uma Conferência Internacional, em março deste ano, abordou sua contribuição para a independência dos países africanos de língua portuguesa: Angola, Cabo Verde e Guiné-Bissau e Moçambique.

Um apelo feito em sua visita foi decisivo para a Igreja no continente. Durante a Missa de conclusão do Simpósio dos Bispos da África, Paulo VI pediu: “Africanos, sede missionários de vós próprios!”.

João Paulo II

O apelo de Paulo VI foi recordado pelo seu sucessor, João Paulo II, que esteve no continente por 14 vezes e convocou a primeira Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a África.

Na Exortação apostólica pós sinodal Ecclesia in Africa, João Paulo II destacou a responsabilidade do continente pela missão além se suas fronteiras:

“A frase profética de Paulo VI — ‘ vós, Africanos, sois chamados a ser missionários de vós mesmos’ — há-de ser entendida deste modo: ‘sois missionários pelo mundo inteiro’ (…). Às Igrejas particulares da África, foi lançado um apelo para a missão fora dos limites das próprias dioceses”.

Nos quase 27 anos de Pontificado, João Paulo II realizou 14 viagens à África. Ele visitou 38 países: Congo, Quênia Gana, Burkina Faso, Costa do Marfim, Nigéria, Benin, Gabão, Guiné Equatorial, Togo, Camarões, República Centro-Africana, Marrocos, Zimbábue, Botsuana, Lesoto, Suazilândia, Moçambique, Ilhas Maurício, Madagascar, Zâmbia, Malawi , Tanzânia, Ruanda, Burundi, Cabo Verde, Guiné Bissau, Mali, Chade, Angola, São Tomé e Príncipe, Senegal, Gâmbia, Guiné, Uganda, Sudão, Àfrica do Sul e o Egito.

Bento XVI

O Papa Bento XVI visitou a África duas vezes. Em 2009, esteve em Camarões e Angola, e em 2011, em Benin.

Nesta última viagem, o Pontífice divulgou a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Africae Munus, na qual explica por que convocou um segundo sínodo sobre a África, 15 anos após o primeiro:

“Para dar à Igreja de Deus presente no continente africano e ilhas adjacentes um novo impulso, carregado de esperança e de caridade evangélica”.

Na exortação, Bento XVI destaca ainda os frutos do sínodo, convocado por João Paulo II, afirmando que a assembleia proporcionou à África uma vitalidade eclesial excepcional e o desenvolvimento teológico da Igreja como Família de Deus.

O primeiro sínodo foi declarado o “Sínodo da Ressurreição e da esperança” e o segundo o “Sínodo de um novo Pentencostes”, como destacam os padres sinodais nas proposições para a II Assembleia da África.

Bento XVI chamou a atenção para o potencial evangelizador do continente e enfatizou seu valor na exortação Africae Munus: “Um tesouro precioso está presente na alma da África, onde vislumbro «um imenso “pulmão” espiritual para uma humanidade que se apresenta em crise de fé e de esperança»”.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Episcopado é serviço, não honra, reitera Papa

Ao ordenar novo bispo auxiliar para Roma, Papa lembrou que o episcopado é um serviço; ao bispo cabe mais servir do que dominar

Jéssica Marçal
Da Redação


Papa Francisco na Basílica de São João Latrão, ordenando bispo auxiliar para Roma / Foto: Reprodução CTV

O Papa Francisco ordenou um bispo auxiliar para Roma nesta segunda-feira, 9. Dom Angelo De Donatis, até então do clero romano, foi nomeado para essa missão em 14 de setembro passado. Na homilia, um dos pontos destacados pelo Papa foi que o episcopado é um serviço e não uma honra.

A ordenação aconteceu na festa da Dedicação da Basílica Lateranense, na Basílica Papal de São João Latrão. Francisco lembrou que, para perpetuar esse ministério apostólico de geração em geração, os doze apóstolos somaram a eles colaboradores, transmitindo-lhes o dom do Espírito Santo.

“É precisamente Cristo que, no ministério do bispo, continua pregando o Evangelho de salvação e santificando os crentes mediante os sacramentos da fé; é Cristo que na paternidade do bispo enriquece com novos membros o seu corpo que é a Igreja; é Cristo que na sabedoria e prudência do bispo guia o povo de Deus na peregrinação terrena até a felicidade eterna”, disse o Papa.


Novo bispo auxiliar de Roma: Dom Angelo De Donatis / Foto: Reprodução CTV

Francisco convidou os fiéis a acolherem com gratidão esse novo bispo ordenado hoje. E a Dom Donatis ele frisou: “Episcopado é nome de um serviço, não de honra, porque ao bispo compete mais o servir do que o dominar”.

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O Papa recomendou ao novo bispo auxiliar de Roma que faça homilias simples, compreensíveis a todos, e que possam ser canais da graça de Deus. Outro ponto destacado por Francisco foi a necessidade de misericórdia.

“Eu te peço, como irmão, que seja misericordioso. A Igreja e o mundo precisam de tanta misericórdia. Que você ensine aos presbíteros, aos seminaristas, o caminho da misericórdia. Com palavras, sim, mas sobretudo com suas atitudes”.

Dom Angelo De Donatis nasceu no dia 4 de janeiro de 1954 e foi ordenado sacerdote em 12 de abril de 1980. Mesmo como padre, Dom Angelo já fazia parte da diocese de Roma, atuando no Conselho Presbiteral e no Colégio dos Consultores. Na Quaresma de 2014, ele foi o encarregado das meditações para os exercícios espirituais da Cúria Romana.


Dom Angelo De Donatis, durante ordenação episcopal, presidida pelo Papa Francisco / Foto: Reprodução CTV

A caridade não se faz com o supérfluo, diz Papa

 Na Oração do Angelus, o Papa Francisco disse que não se deve dar apenas o supérfluo aos pobres, mas também o que custa verdadeiramente doar

Da redação, com Rádio Vaticano

“Há doenças cardíacas que fazem aproximar o bolso, a carteira ao coração”. O Papa Francisco no Angelus deste domingo, 8, comentou a mensagem do óbolo da viúva, que convida não só a dar o supérfluo aos pobres, mas também o que nos custa verdadeiramente dar, narrada pelo Evangelho. Neste contexto, o Pontífice contou um episódio sobre uma família de Buenos Aires, cidade, que definiu a sua diocese anterior.

“Uma mãe e seus três filhos, enquanto que o pai estava no trabalho, se colocaram à mesa diante de bifes à milanesa. Batem à porta e a mãe pergunta quem é? A criança que tinha ido abrir a porta responde que havia um mendigo que pede algo para comer. E a mãe, que era uma boa cristã, pega uma faca e diz às crianças: ‘O que vamos fazer? Vamos dar metade de cada bife’. ‘Não mãe, não assim. Pegue da geladeira’, respondem as crianças.”

O Papa continua afirmando que a mãe disse: “‘Não, vamos fazer três sanduíches’. E as crianças aprenderam. A verdadeira caridade se faz assim. Estou certo de que naquela tarde elas tiveram um pouco de fome. Devemos nos privar de algo como essas crianças se privaram da metade do bife”.

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O Pontífice acrescenta ainda que Jesus diz também que o critério de julgamento não é a quantidade, mas a plenitude. “Há uma diferença entre quantidade e plenitude. Você pode ter tanto dinheiro, mas ser vazio, não há plenitude no seu coração. Não é questão de carteira, mas de coração. Amar a Deus ‘com todo o coração’ significa confiar n’Ele, na sua providência, e servi-Lo nos nossos irmãos mais pobres sem esperar nada em troca”.

“Diante das necessidades dos outros, somos chamados a nos privar de algo essencial, não apenas do supérfluo; somos chamados a dar o tempo necessário, não só aquilo que avança; somos chamados a dar imediatamente e sem reserva alguns de nossos talentos, e não depois de tê-los usados para nossas finalidades pessoais ou de grupo”.

O Papa invocou as pessoas a pedirem ao Senhor “de nos admitir à escola desta pobre viúva que Jesus, entre a perplexidade dos discípulos, faz subir à cátedra e apresenta como mestra do Evangelho vivo. Por intercessão de Maria, a mulher pobre que deu a sua vida a Deus por nós, peçamos o dom de um coração pobre, mas rico em uma generosidade alegre e gratuita”.
Dia de Ação de Graças

Após a oração do Angelus o Papa Francisco recordou que neste domingo, na Itália, se celebra o Dia de Ação de Graças, que este ano tem como tema “O solo, o bem comum”.

“Associo-me aos Bispos desejando que todos ajam como administradores responsáveis de um precioso bem coletivo, a terra, cujos frutos têm um destino universal. Eu estou próximo com gratidão ao mundo agrícola, e encorajo a cultivar a terra de modo a preservar a fertilidade para que produza alimento para todos, hoje e para as gerações futuras. Neste contexto, se realiza em Roma o Dia diocesano para a salvaguarda da criação, que este ano é enriquecido pela “Marcha pela terra.”

O Papa recordou ainda que nesta segunda-feira, 9, terá início em Florença, o 5º Congresso Eclesial Nacional, com a presença de bispos e delegados de todas as dioceses italianas. Trata-se de um evento importante de comunhão e de reflexão, ao qual “terei a alegria de
participar também, na terça-feira, 10, depois de uma breve passagem por Prato”, conclui o Pontífice.

Papa comenta sobre documentos vaticanos roubados

Após a Oração do Angelus, o Papa Francisco se pronunciou com relação aos documentos vaticanos que foram roubados e publicados

Da redação, com Rádio Vaticano

Sobre as notícias que circularam com relação aos documentos vaticanos, que foram roubados e publicados, o Papa Francisco disse neste domingo, 8, após a
Oração do Angelus que “antes de tudo, roubar os documentos é um crime, um ato lamentável, que não ajuda”.

O Papa assegura que este fato triste certamente não o desviará de seu obra. “Trabalho de ‘reforma’ que estou realizando, com meus colegas e com o apoio de todos vocês. Sim, com o apoio de toda a Igreja, porque a Igreja se renova com a oração e com a santidade cotidiana de todos os batizados”.

O Santo Padre conclui agradecendo e pedindo para que todos rezem por ele e pela Igreja, para que não fiquem “incomodados”, mas sim, ir em frente com confiança e esperança.

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Dignidade do trabalho e direito ao descanso, indica Papa ao INPS

 Pela primeira vez na história, o Instituto Nacional da Previdência Social (INPS) da Itália é recebido por um Papa; No discurso, destaque para direito ao descanso e dignidade do trabalho

Rádio Vaticano

O Papa Francisco recebeu no final da manhã deste sábado, 7, na Praça São Pedro, cerca de 23 mil membros do Instituto Nacional da Previdência Social (INPS) da Itália. É a primeira vez, em toda a sua história, que o INPS italiano é recebido em audiência por um Pontífice.

No discurso que pronunciou aos numerosos presentes, o Santo Padre recordou a “delicada tarefa do Instituto de tutelar alguns direitos ligados à prática do trabalho: direitos baseados na própria natureza da pessoa humana e sobre a sua dignidade transcendental”.


Papa recebeu pela primeira vez os membros do Instituto Nacional da Previdência Social (INPS) da Itália / Foto: reprodução CTV

O Papa chamou a atenção dos presentes, de modo particular, para “a salvaguarda do direito do homem ao descanso”, devido às suas profundas raízes espirituais:

“O descanso, na linguagem da fé, é uma dimensão humana e divina ao mesmo tempo, com uma única prerrogativa: é uma ocasião para viver plenamente a sua condição de criatura, elevada à dignidade de filho de Deus. Logo, a exigência de santificar o descanso, do qual vocês são, em certo sentido, colaboradores”.


Membros do INPS da Itália lotaram a Praça São Pedro, no Vaticano / Foto: Reprodução CTV
Garantir a dignidade do trabalho humano

Neste sentido, o Pontífice advertiu para que “jamais faltem os subsídios indispensáveis para a sobrevivência dos desempregados e suas famílias”; seja dada a devida atenção ao trabalho feminino e tutelado o direito da maternidade e do nascituro; a devida assistência na velhice, na enfermidade e nos infortúnios do trabalhador; enfim, o direito a uma aposentadoria digna.

E o Papa concluiu: “Trabalhar, de fato, quer dizer prolongar a obra de Deus na história, contribuindo com ela de maneira pessoal, útil e criativa. Ao apoiar o trabalho vocês, sustentam a obra divina e asseguram uma subsistência digna a quem chega ao término da sua atividade. O ser humano é princípio, sujeito e fim de todas as instituições sociais. A sua dignidade jamais deve ser prejudicada!”.

O Santo Padre se despediu dos milhares de presentes do INPS italiano exortando-os a não se esquecer do seguinte imperativo: amar e servir o homem com consciência, responsabilidade e disponibilidade, sobretudo os mais fracos e necessitados”.

Papa fala sobre tesouros da Igreja, pobres e infância

 Sobre as riquezas da Igreja, o Papa explicou que nem tudo pode ser vendido por ser bem da humanidade; mas o que pode ser vendido é

Rádio Vaticano


Papa concede entrevista a jornal holandês / Foto: Straatnieuws

O jornal de rua holandês Straatniews, com sede em Utrecht, na Holanda, publicou em sua mais recente edição uma entrevista com o Papa Francisco, realizada no dia 27 de outubro.

O jornal, levado adiante por jornalistas, fotógrafos e ilustradores voluntários, é vendido por moradores de rua, entre os quais alguns migrantes. As edições do Straatniews também chegam à cidades importantes como Haia, Roterdã e Amsterdã.

Na conversa informal, Francisco fala de sua infância em Buenos Aires, de como era “ruim de bola” e por isso jogava no gol, da origem de uma medalha que traz até hoje consigo, da raiz de seu empenho para com os pobres, de querer ter sido açougueiro, da venda de tesouros da Igreja e de não estar em uma “gaiola de ouro”, mas que sente falta das ruas.

Abaixo, publicamos a versão brasileira da entrevista traduzida pela Rádio Vaticano.

***

É ainda cedo quando nos apresentamos diante de um dos portões de serviço do Vaticano, à esquerda da Basílica de São Pedro. Os guardas-suíços sabem na nossa chegada e nos deixam passar. Temos que ir até a Casa Santa Marta, porque é lá que vive o Papa Francisco. A Casa Santa Marta é, provavelmente, o hotel três estrelas mais particular do mundo. Um grande edifício branco onde pernoitam cardeais e bispos que trabalham no Vaticano ou que se encontram de passagem e que também é a residência dos cardeais durante o Conclave.

Aqui também sabem da nossa chegada. Duas senhoras na recepção, como em qualquer hotel, gentilmente nos indicam uma porta lateral. A sala do encontro já havia sido preparada. Um espaço grande com uma escrivaninha, um sofá, algumas mesas e cadeiras: este é o lugar em que o Papa recebe seus convidados “informais”. Tem início a espera. Marc, um dos vendedores do Straatnieuws, é o mais tranquilo de todos e aguarda, sentado, o que acontecerá.

De repente, aparece o fotógrafo oficial do Pontífice. “O Papa está chegando”, nos sussurra.

E, antes mesmo que percebêssemos, entra na sala: Papa Francisco, o líder espiritual de 1,2 bilhão de católicos. Traz consigo um grande envelope branco. ‘Sentem-se, amigos’, nos diz fazendo um gesto gentil com a mão. ‘Que satisfação encontrá-los’. O Santo Padre dá a impressão de ser um homem calmo e amigável, mas ao mesmo tempo enérgico e preciso. Uma vez sentados, desculpa-se pelo fato de não falar holandês. O desculpamos imediatamente.

Straatniews – As nossas entrevistas começam sempre com uma pergunta sobre a rua na qual o entrevistado cresceu. O senhor, Santo Padre, o que se lembra daquela rua? Que imagens lhe vêm à mente pensando nas ruas de sua infância?

Papa Francisco – Desde quando tinha 1 ano até quando entrei no seminário, vivi na mesma rua. Era uma rua simples de Buenos Aires, casas baixas. Havia uma pracinha onde jogávamos bola. Me lembro que fugia de casa e ia jogar bola com os meninos depois da escola. Meu pai trabalhava em uma fábrica a 100 metros dali. Era contador. Meus avós viviam a 50 metros. Todos a poucos passos. Me lembro também o nome das pessoas, como padre fui dar os sacramentos, o último conforto a tantos, que me chamavam e eu ia porque gostava deles. Estas são as minhas recordações espontâneas.

Straatniews – O senhor jogava bola?

Papa Francisco – Sim

Straatniews – Era bom?

Papa Francisco – Não. Em Buenos Aires quem jogava como eu era chamado de ‘pata dura’. Quer dizer, o mesmo que ter duas pernas esquerdas. Mas eu jogava, era goleiro muitas vezes.

Straatniews – Como nasceu seu empenho pessoal pelo pobres?

Papa Francisco – Sim, tantas recordações me vêm à mente. Me impressionou muito uma senhora que vinha à minha casa três vezes por semana para ajudar minha mãe. Por exemplo, ajudava na lavanderia. Ela tinha dois filhos. Eram italianos, sicilianos, e viveram a guerra, eram muito pobres, mas muito bons. Sempre mantive a recordação daquela mulher. A sua pobreza me impressionava. Nós não éramos ricos, chegávamos ao fim do mês normalmente, mas não além. Não tínhamos um carro, não tirávamos férias ou coisas assim. Mas a ela muitas vezes faltavam as coisas necessárias. Nós tínhamos o suficiente e minha mãe lhe dava as coisas. Depois, ela voltou para a Itália, e voltou de novo para a Argentina. Encontrei-a novamente quando era arcebispo de Buenos Aires, ela tinha 90 anos. E eu a acompanhei até a morte, aos 93 anos. Um dia, ela me deu uma medalha do Sagrado Coração de Jesus que até hoje ainda trago comigo. Esta medalha – que também é uma recordação – me faz muito bem. Queres ver?

(Com certa dificuldade, o Papa consegue tirar a medalha, completamente descolorida depois de ser usada por anos).

Assim, penso nela todos os dias e o quanto sofreu pela pobreza. E penso a todos os outros que sofreram. Carrego e rezo…

Straatniews – Qual é a mensagem da Igreja para os sem-teto? O que significa a solidariedade cristã para eles, concretamente?

Papa Francisco – Penso em duas coisas. Jesus veio ao mundo sem-teto e se fez pobre. A Igreja quer abraçar a todos e dizer que é um direito ter um teto sobre você. Nos movimentos populares trabalha-se com três ‘t’ espanhóis, trabalho, teto, terra. A Igreja predica que todas as pessoas têm direito a estes três ‘t’.

Straatniews – O senhor pede com frequência atenção aos pobres e refugiados. Não acredita que assim possa criar uma forma de cansaço nos meios de comunicação e na sociedade em geral?

Papa Francisco – A todos nós vem a tentação – quando se fala de um tema que não é agradável, porque é desagradável falar – de dizer: ‘Chega, isso cansa demais’. Eu sinto que o cansaço existe, mas não me preocupo. Devo continuar a falar das verdades e de como as coisas são.

Straatniews – É o seu dever?

Papa Francisco – Sim, é o meu dever. Sinto isso dentro de mim. Não é um mandamento, mas como pessoas, todos devemos fazer.

Straatniews – Não teme que a sua defesa da solidariedade e da ajuda aos sem-teto e outros pobres possa ser instrumentalizada politicamente? Como a Igreja deve falar para ser influente e, ao mesmo tempo, ficar de fora dos alinhamentos políticos?

Papa Francisco – Existem estradas que levam a erros neste ponto. Gostaria de destacar duas tentações. A Igreja deve falar com a verdade e também com o testemunho: o testemunho da pobreza. Se um fiel fala da pobreza ou dos sem-teto e leva uma vida de faraó: isso não se pode fazer. Esta é a primeira tentação. A outra é de fazer acordos com os governos.

Acordos podem ser feitos, mas devem ser acordos claros, transparentes. Por exemplo, nós administramos este edifício, mas as contas são todas controladas, para evitar a corrupção. Porque há sempre a tentação da corrupção na vida pública. Seja política, seja religiosa. Recordo que uma vez, com muito pesar, vi – quando a Argentina sob o regime militar entrou na guerra contra a Inglaterra pelas Ilhas Malvinas – que as doações, e vi que muitas pessoas, também católicos, que estavam encarregados de distribui-las, as levavam para casa. Existe sempre o perigo da corrupção. Uma vez fiz uma pergunta a um ministro argentino, um homem honesto. Ele que deixou o cargo porque não podia concordar com algumas coisas um pouco obscuras. Lhe fiz a pergunta: quando vocês enviam ajudas, seja alimento, vestido, dinheiro, aos pobres e aos indigentes: aquilo que mandam, quanto chega realmente? Me disse: 35%. Significa que 65% se perde. É a corrupção: um pedaço para mim, um outro pedaço para mim.

Straatniews – Acredita que até agora no seu Pontificado pôde obter uma mudança mental, por exemplo, na política?

Papa Francisco – Não sei o que responder. Não sei. Sei que alguns disseram que eu era comunista. Mas é uma categoria um pouco antiquada (risos). Talvez hoje se utilizem outras palavras para dizer isto…

Straatniews – Marxista, socialista…

Papa Francisco – Disseram tudo isso.

Straatniews – Os sem-teto têm problemas financeiros, mas cultivam a própria liberdade. O Papa não tem nenhuma necessidade material, mas é considerado por alguns como um prisioneiro no Vaticano. Não sente nunca o desejo de se colocar nas vestes de um sem-teto?

Papa Francisco – Lembro do livro de Mark Twain ‘O príncipe e o pobre’, quando alguém pode comer todos os dias, tem roupas, uma cama para dormir, uma escrivaninha para trabalhar e não falta nada. Tem até mesmo amigos. Mas este príncipe de Mark Twain vive numa gaiola de ouro.

Straatniews – O senhor se sente livre aqui no Vaticano?

Papa Francisco – Dois dias depois de ser eleito Papa, eu fui (na versão em holandês: “como se costuma dizer oficialmente”) tomar posse do apartamento papal, no Palácio Apostólico. Não é um apartamento de luxo. Mas é amplo, é grande… Depois de ter visto este apartamento me parecia um funil ao contrário, isto é, grande, mas com uma pequena porta. Isto significa estar isolado. Eu pensei: não posso viver aqui, simplesmente por razões mentais. Iria me fazer mal. No início, parecia uma coisa estranha, mas eu pedi para ficar aqui, na Casa Santa Marta. E isso é bom para mim, porque eu me sinto livre. Eu almoço e janto no refeitório onde todos comem. E quando chego com antecedência, faço as refeições com os funcionários. Encontro pessoas, eu as saúdo e isso faz com que a gaiola de ouro não seja tanto uma gaiola. Mas eu sinto falta da rua.

Straatniews – Santo Padre, Marc quer convidá-lo para sair e comer uma pizza conosco. O que o senhor acha?

Papa Francisco – Eu gostaria, mas não conseguiremos fazer isso. Porque no momento que eu sair daqui as pessoas virão até mim. Quando eu fui mudar as lentes dos meus óculos na cidade, eram 7 da noite. Não havia muitas pessoas na rua. Levaram-me ao ótico e quando sai do carro havia uma mulher que me viu e gritou: “É o Papa”. E então eu estava dentro e fora, tanta gente…

Straatniews – Faz falta o contato com as pessoas?

Papa Francisco – Eu não sinto falta porque as pessoas vêm aqui. Toda quarta-feira eu vou à Praça para a Audiência Geral, às vezes eu vou a uma paróquia: estou em contato com as pessoas. Por exemplo, ontem (26 de outubro) vieram mais de 5 mil ciganos à Sala Paulo VI.

Straatniews – Pode-se ver que o senhor gosta desta volta na praça durante a Audiência geral …

Papa Francisco – É verdade. Sim, é verdade.

Straatniews – O seu homônimo São Francisco escolheu a pobreza radical e vendeu também o seu Evangelho. Como Papa, e Bispo de Roma, o senhor não se sente às vezes sob pressão para vender os tesouros da Igreja?

Papa Francisco – Esta é uma pergunta fácil. Não são os tesouros da Igreja, mas são os tesouros da humanidade. Por exemplo, se eu amanhã digo que a Pietà de Michelangelo será leiloada, não é possível, porque não é de propriedade da Igreja. Está em uma igreja, mas é da humanidade. Isso se aplica a todos os tesouros da Igreja. Mas nós começamos a vender presentes e outras coisas que são dadas para mim. E os rendimentos da venda vão para Dom Krajewski, que é meu elemosineiro. E depois tem também a loteria. Há carros que foram vendidos ou cedidos em uma loteria, e os recursos recolhidos utilizados para os pobres. Há coisas que se podem vender e essas se vendem.

Straatniews – O senhor percebe que a riqueza da Igreja pode criar este tipo de expectativas?

Papa Francisco – Sim, se fizermos um catálogo dos bens da Igreja, se pensa: a Igreja é muito rica. Mas quando foi feito a Concordata com a Itália em 1929 sobre a Questão Romana, o governo italiano daquele tempo ofereceu à Igreja um grande parque em Roma. O papa na época, Pio XI, disse: não, eu gostaria apenas de meio quilômetro quadrado para garantir a independência da Igreja. Este princípio vale ainda hoje. Sim, os bens imóveis da Igreja são muitos, mas nós os usamos para manter as estruturas da Igreja e para manter muitas obras que são feitas em países necessitados: hospitais, escolas. Ontem, por exemplo, eu pedi para enviar ao Congo 50 mil euros para construir três escolas em lugares pobres; a educação é uma coisa importante para as crianças. Eu fui à administração competente, fiz este pedido e o dinheiro foi enviado.

Straatniews – Vamos falar sobre a Holanda. O senhor nunca esteve em nosso país?

Papa Francisco – Sim, uma vez quando eu era superior provincial dos jesuítas na Argentina. Estava de passagem durante uma viagem. Eu fui a Wijchen, porque ali havia o noviciado, e também fui a Amsterdã por um dia e meio, onde visitei uma casa dos jesuítas. Sobre a vida cultural não vi nada porque eu não tinha tempo.

Straatniews – Por isso poderia ser uma boa ideia se os sem-teto da Holanda convidassem o senhor para uma visita ao nosso país. O que a acha, Santo Padre?

Papa Francisco – As portas não estão fechadas a essa possibilidade.

Straatniews – Então, quando haverá um pedido desta natureza, o senhor vai levá-lo em consideração?

Papa Francisco – Eu o considerarei. E agora que a Holanda tem uma rainha argentina (risos), quem sabe.

Straatniews – Alguma mensagem especial para os sem-teto em nosso país?

Papa Francisco – Eu não conheço bem a situação dos sem-teto na Holanda. Eu gostaria de dizer que a Holanda é um país desenvolvido com tantas possibilidades. Eu pediria aos sem-teto holandeses para continuarem a lutar pelos três ‘t’.

Na conclusão, também Marc faz algumas perguntas. Ele quer saber, entre outras coisas, se o Papa quando era criança sonhava em se tornar Papa. O Papa respondeu com um firme “não”.

Papa Francisco – Eu faço uma confidência. Quando eu era pequeno não havia lojas que vendiam coisas. Em vez disso, havia o mercado onde se encontrava o açougueiro, o verdureiro e assim por diante. Eu fui lá com minha mãe e minha avó para fazer compras. Eu era pequeno, eu tinha quatro anos. E uma vez me perguntaram: O que você gostaria de ser quando crescer? Eu disse: açougueiro!

Straatniews – Para muitos, até 13 de março de 2013 o senhor era uma pessoa desconhecida. Em seguida, de um momento para outro, se tornou famoso em todo o mundo. Como viveu essa experiência?

Papa Francisco – Chegou e não esperava isso. Eu não perdi a paz. E isso é uma graça de Deus. Eu não penso muito no fato de que sou famoso. Eu digo para mim mesmo: agora eu tenho um lugar importante, mas em dez anos ninguém mais vai me reconhecer (risos). Você sabe, existem dois tipos de fama: a fama dos “grandes” que fizeram grandes coisas, como Madame Curie, e a fama dos vaidosos. Mas essa última fama é como uma bolha de sabão.

Straatniews – Então, o senhor diz “agora eu estou aqui e eu tenho que fazer o melhor” e continuará este trabalho até quando for capaz?

Papa Francisco – Sim.

Straatniews – Santo Padre, o senhor pode imaginar um mundo sem os pobres?

Papa Francisco – Eu gostaria de um mundo sem pobres. Devemos lutar por isso. Mas eu sou um crente e sei que o pecado está sempre dentro de nós. E há sempre a ganância humana, a falta de solidariedade, o egoísmo que criam os pobres. Por isso, me parece um pouco difícil imaginar um mundo sem pobres. Se você pensa nas crianças exploradas para o trabalho escravo, ou nas crianças exploradas para o abuso sexual. E outra forma de exploração: matar crianças para a remoção de órgãos, o tráfico de órgãos. Matar as crianças para remover órgãos é ganância. Por isso, não sei se teremos um mundo sem os pobres, porque o pecado sempre existe e nos leva ao egoísmo. Mas devemos lutar, sempre, sempre…

Terminamos. Agradecemos ao Papa pela entrevista. Também ele nos agradece e diz que gostou muito da entrevista. Então pega o envelope branco que todo o tempo manteve ao seu lado no sofá e tira para cada um de nós um rosário. São tiradas fotos e, em seguida, o Papa Francisco se despede. Tão calmo e tranquilo como ele chegou, agora sai pela porta.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Família é lugar onde se treina o perdão recíproco, diz Papa

Na catequese de hoje, Papa falou sobre o perdão, destacando que a família é lugar onde se aprende a perdoar

Jéssica Marçal
Da Redação

O tema central da catequese do Papa Francisco nesta quarta-feira, 4, foi o perdão, em especial no âmbito da família. Francisco enfatizou que o perdão torna a sociedade menos má e a família é um bom lugar para se treinar o perdão recíproco.


Francisco fala do dom do perdão, uma prática que se aprende na família / Foto: Reprodução CTV

Não se pode viver bem sem o perdão, disse o Papa, e nenhum amor pode durar sem que haja o perdão. No dia a dia, muitas são as situações de injustiças e ofensas para com o outro, ocasiões em que o que deve ser feito é procurar curar as feridas abertas, e logo. “Se esperamos muito, tudo se torna mais difícil”, ressaltou o Papa, recordando o “segredo” que ele mesmo já indicou outras vezes para curar as feridas: não deixar terminar o dia sem pedir desculpa, sem fazer as pazes.

“Se aprendemos a pedir desculpa logo e a darmos o perdão recíproco, curam-se as feridas, o matrimônio se fortalece e a família se torna uma casa sempre mais sólida, que resiste aos choques das nossas pequenas e grandes maldades. E para isso não é necessário fazer um grande discurso, mas é suficiente um carinho. Um carinho e tudo termina e se recomeça. Mas não terminem o dia em guerra, entenderam?”.

Acesse
.: Íntegra da catequese

Aprendendo a prática do perdão em família, esse hábito será levado para qualquer situação, afirmou o Papa, defendendo, portanto, que haja na sociedade lugares como a família, onde se aprende o perdão recíproco. “A família é uma grande academia de treinamento ao dom e ao perdão recíproco”.

Sínodo sobre família

O Santo Padre recordou na audiência geral o recente Sínodo sobre Família realizado no Vaticano. Também essa foi uma oportunidade de renovar a esperança de que faz parte da vocação e da missão da família a capacidade de perdoar e se perdoar.

“A prática do perdão não só salva as famílias da divisão, mas as torna capazes de ajudar a sociedade a ser menos má e cruel. A Igreja, queridas famílias, está sempre próxima a vocês para ajudar a construir a suas casas sobre a rocha da qual falou Jesus”.

Jubileu da Misericórdia

E diante da proximidade do Jubileu da Misericórdia, que começa no próximo dia 8 de dezembro, Francisco manifestou o desejo de que, nesse período, as famílias redescubram o tesouro do perdão recíproco.

“Rezemos para que as famílias sejam sempre mais capazes de viver e de construir caminhos concretos de reconciliação, onde ninguém se sinta abandonado ao peso dos seus débitos”.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

No Vaticano, Francisco reza por Papas falecidos

No Dia de Finados, Papa Francisco visitou o túmulo de São Pedro e fez momento de oração por seus predecessores já falecidos

Da Redação, com Rádio Vaticano

O Papa Francisco desceu à Cripta Vaticana nesta segunda-feira, 2, Dia de Finados, onde, em silêncio, recordou os Pontífices falecidos. Em seguida, ele fez um momento de oração por seus predecessores diante do túmulo de São Pedro.

A visita do Papa, que foi estritamente privada, teve início às 18h (hora local, 15h em Brasília), a exemplo do que já aconteceu em anos anteriores e também como, há muitos anos, fazem os Pontífices no dia de Finados.

Nesta terça-feira, 3, às 11h30 (hora local, 8h30 em Brasília), Francisco preside a Santa Missa em memória dos cardeais e bispos falecidos ao longo do ano de 2015.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Finados: Padre explica como lidar com medo da morte

 De acordo com o sacerdote, o medo da morte é provocado na maioria das vezes por falta de esperança

Luciane Marins
Da redação

A Igreja Católica celebra nesta segunda-feira, 2, o Dia de Finados. A data é marcada pela lembrança e a saudade dos que já fizeram a passagem desta vida temporária para a vida eterna.


Padre Mário é Doutor em Teologia Moral pela Academia Alfonsiana, Roma, Itália / Foto: Arquivo pessoal

A morte ainda é um momento que
para muitos desperta medo e insegurança. Por isso, o padre Mário Marcelo Coelho, scj, doutor em Teologia Moral, conversou com a equipe do noticias.cancaonova.com e explicou o significado da morte à luz da fé cristã e como as pessoas devem lidar com o medo de morrer.


Padre Mário Marcelo: A fé cristã nos apresenta a morte como o encontro definitivo com a vida nova que é Deus, aquela vida que Ele tem para nós, preparou para nós e prometeu para nós. Eu posso dizer que para a fé cristã, a morte é uma passagem, uma passagem para uma existência viva e divina.

Eu não posso dizer que a morte é o fim, mas para a fé cristã é como essa passagem. Passagem de onde? De uma vida temporária para uma vida definitiva, para uma existência definitiva em Deus e com Deus.
noticias.cancaonova.com: O que se pode encontrar

 
 

Papa convida cristãos a imitarem os gestos dos santos

Imitar os seus gestos de amor e de misericórdia é um pouco como perpetuar a sua presença neste mundo”, disse o Papa

Da redação, com News.va

No Angelus deste domingo, 1º, Solenidade de Todos os Santos, o Papa Francisco exortou os cristãos a imitarem os gestos de amor e de misericórdia dos santos.

O Santo Padre recordou a leitura do Livro do Apocalipse, da liturgia do dia, que chama a atenção para uma “característica essencial” dos santos: são pessoas que pertencem totalmente a Deus.

“São pessoas que pertencem totalmente a Deus. Representa-os como uma multidão imensa de ‘eleitos’ vestidos de branco e assinalados com o selo de Deus”, disse.

Em seguida, o Papa perguntou aos fiéis presentes na Praça São Pedro se sabiam o que significa ter o selo de Deus. Reafirmando, disse que no Batismo todos receberam esse selo do Pai Celeste, tornando-se seus filhos. Os santos são assim, disse o Santo Padre, “aqueles que conservaram intacto o selo de Deus”.

A segunda característica dos Santos é aquela de serem exemplos a imitar, declarou o Papa Francisco. “Não só aqueles que foram canonizados mas também que vivem ao nosso lado. Se calhar até conhecemos algum, pode ser o nosso vizinho do lado, ou até tivemos algum santo na família”, disse o Santo Padre, que exortou os cristãos a imitarem os santos nos seus gestos de amor e de misericórdia.

“Imitar os seus gestos de amor e de misericórdia é um pouco como perpetuar a sua presença neste mundo. Efetivamente, aqueles gestos evangélicos são os únicos que resistem à destruição da morte: um ato de ternura, uma ajuda generosa, um tempo passado a escutar, uma visita, uma boa palavra, um sorriso… Aos nossos olhos estes gestos podem parecer insignificantes, mas aos olhos de Deus são eternos, porque o amor e a compaixão são mais fortes do que a morte.”

Após a recitação da oração do Angelus o Papa Francisco lançou um apelo para a paz na República Centro Africana e pediu que se ponha fim ao ciclo de violências.

“Estou espiritualmente próximo aos padres combonianos da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima em Bangui, que acolhem numerosos refugiados. Exprimo a minha solidariedade à Igreja, às outras confissões religiosas e à inteira nação Centro-Africana, tão durante provada enquanto cumprem esforços para superarem as divisões e retomarem o caminho da paz”.

O Papa disse que para manifestar a proximidade orante de toda a Igreja a esta Nação “tão aflita e atormentada”, no domingo, 29 de novembro, abrirá a porta santa da catedral de Bangui, durante sua Viagem Apostólica à África.

O Papa recordou ainda Madre Teresa Casini, fundadora da Congregação das Irmãs Oblatas do Sagrado Coração de Jesus que foi beatificada neste sábado, 31, em Frascati (Roma), numa celebração presidida pelo Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato.

Nas saudações do Santo Padre aos fiéis presentes na praça destaque para os participantes na Corrida dos Santos e na Marcha dos Santos, iniciativa promovida pela Fundação “D. Bosco no mundo” e da Associação “Família Pequena Igreja”.

O Papa Francisco recordou no final que celebra na tarde deste domingo, 1º, uma Missa no Cemitério del Verano em Roma, unindo-se, assim, espiritualmente a todos os que nestes dias vão rezar junto dos túmulos dos seus entre queridos.

Madre que dedicou sua vida à assistência de sacerdotes é beatificada

Uma Missa foi celebrada para beatificar a fundadora da Congregação das Irmãs Oblatas do Sagrado Coração de Jesus, Maria Teresa Casini

Da redação, com Rádio Vaticano

O Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato, preside na manhã deste sábado, 31, em nome do Papa Francisco, na Basílica de São Pedro Apóstolo, em Frascati, uma Celebração Eucarística de beatificação da fundadora da Congregação das Irmãs Oblatas do Sagrado Coração de Jesus, Maria Teresa Casini.

Maria Teresa nasceu em Frascati, em 1864, no seio de uma família abastada, na qual recebeu uma profunda formação católica. Viveu na humildade e na penumbra em um período de grandes acontecimentos políticos e turbamentos sociais. Faleceu em Grottaferrata, em 1937.

A Fundadora das Irmãs Oblatas do Sagrado Coração de Jesus teve uma vida simples, sem eventos excepcionais, entre dois conventos: de Frascati e Roma. Em sua história, como tantas outras, ela conseguiu emergir por causa dos valores das suas obras concretas, de instituições e intuições pastorais.

Madre Casini teve a intuição de que poderia ajudar os sacerdotes em sua missão. Por isso, dedicou toda a sua obra para sustentar a santidade, garantir a formação das vocações sacerdotais antes de entrarem para o seminário, e a assistência aos sacerdotes necessitados.

A biografia de Madre Teresa Casini destaca a vida de uma pessoa que trabalhou por uma maior convivência da sociedade, da história e do progresso.
A Congregação de Madre Maria Teresa Casini atua em diversos países, como na Itália, Estados Unidos, Brasil, Peru, Índia e Guiné Bissau.

No Brasil, as Irmãs Oblatas estão presentes em diversas cidades do Estado do Maranhão: Forquilha, São Bernardo, Rosário e Governador Nunes Freire
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Papa: o perdão de Deus não é uma sentença de tribunal

Papa falou da compaixão de Deus, que significa colocar-se no lugar do outro; o perdão de Deus é com coração de Pai, e não como uma sentença de tribunal

Da Redação, com Rádio Vaticano

A homilia do Papa Francisco nesta sexta-feira, 30, teve como foco a compaixão de Deus. O Santo Padre enfatizou que Deus perdoa os pecados do homem como Pai, não como um funcionário do tribunal que dá uma sentença de absolvição.


Francisco fala da compaixão de Deus / Foto: L’Osservatore Romano

“Deus tem compaixão. Tem compaixão por cada um de nós, tem compaixão da humanidade e mandou seu Filho para curá-la, para regenerá-la, para renová-la (…) É interessante que na parábola que todos conhecemos, do Filho Pródigo, diz-se que quando o pai – que é uma representação de Deus que perdoa – vê chegar seu filho, teve compaixão. A compaixão de Deus não é ter piedade: uma coisa não tem nada a ver com a outra”.

Como exemplo, Francisco disse que uma pessoa pode ter piedade do cachorro que está morrendo, mas a compaixão de Deus é colocar-se no problema, na situação do outro, com o coração de Pai. Por isso Deus mandou seu Filho.

“Jesus curava as pessoas, mas não era um curandeiro. Não! Curava as pessoas como um sinal da compaixão de Deus, para salvá-las, para trazer de volta a ovelha perdida, o dinheiro perdido daquela senhora na carteira. Deus tem compaixão. Deus coloca o seu coração de Pai, coloca o seu coração por cada um de nós. E quando Deus perdoa, perdoa como um Pai e não como um funcionário do tribunal, que lê a sentença e diz: ‘Absolvido por insuficiência de provas’. Nos perdoa por dentro. Perdoa porque se colocou no coração desta pessoa”.

E da mesma forma que Jesus foi enviado para trazer a Boa Nova e libertar aqueles que se sentem oprimido, assim devem fazer os padres. “É isto que faz um sacerdote: comover-se, comprometer-se na vida das pessoas, porque um padre é um sacerdote, assim como Jesus é sacerdote. Quantas vezes – e depois temos que nos confessar – criticamos aqueles padres aos quais não interessa aquilo que acontece em sua congregação, que não se preocupam. Não, não é um bom padre! Um bom padre é aquele que se preocupa”.

Um bom padre, concluiu o Papa, é aquele que se envolve em todos os problemas humanos. Ele destacou o serviço oferecido à Igreja pelo Cardeal Javier Lozano Barragán, presente na Missa, por ocasião dos seus 60 anos de sacerdócio. Francisco recordou com gratidão o seu empenho no dicastério para os Agentes de Saúde, no serviço que a Igreja presta aos doentes. “Damos graças a Deus por esses 60 anos de sacerdócio, este é um presente que o Senhor faz ao Cardeal Barragán: Poder viver assim por 60 anos
”.