quarta-feira, 4 de outubro de 2017


Artigo: São Francisco de Assis


Santa Clara e São Francisco
04/10/2017 08:17

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Juiz de Fora (RV) - Francisco nasceu em Assis, na Úmbria (Itália) em 1182. Jovem orgulhoso, vaidoso e rico, que se tornou o mais italiano dos santos e o mais santo dos italianos. Com 24 anos, renunciou a toda riqueza para desposar a “Senhora Pobreza”. Francisco foi para a guerra como cavaleiro, mas doente ouviu e obedeceu a voz do Patrão que lhe dizia: “Francisco, a quem é melhor servir, ao amo ou ao criado? ”.

Ele respondeu que ao amo. “Porque, então, transformas o amo em criado? ”, replicou a voz. No início de sua conversão, foi como peregrino a Roma, vivendo como eremita e na solidão, quando recebeu a ordem do Santo Cristo na igrejinha de São Damião: “Vai restaurar minha igreja, que está em ruínas”.

Em missão de paz e bem, seguiu com perfeita alegria o Cristo pobre, casto e obediente. No campo de Assis havia uma ermida de Nossa Senhora chamada Porciúncula. Este foi o lugar predileto de Francisco e dos seus companheiros, pois na Primavera do ano de 1200 já não estava só; tinham-se unido a ele alguns valentes que pediam também esmola, trabalhavam no campo, pregavam, visitavam e consolavam os doentes.

A partir daí, Francisco dedica-se a viagens missionárias: Roma, Chipre, Egito, Síria… Peregrinando até aos Lugares Santos. Quando voltou à Itália, em 1220, encontrou a Fraternidade dividida. Parte dos Frades não compreendia a simplicidade do Evangelho.

Em 1223, foi a Roma e obteve a aprovação mais solene da Regra, como ato culminante da sua vida. Na última etapa de sua vida, recebeu no Monte Alverne os estigmas de Cristo, em 1224. Enfraquecido por tanta penitência e cego por chorar pelo amor que não é amado, São Francisco de Assis, na igreja de São Damião, encontra-se rodeado pelos seus filhos espirituais e assim, recita ao mundo o cântico das criaturas.

O seráfico pai, São Francisco de Assis, retira-se então para a Porciúncula, onde morre deitado nas humildes cinzas a 3 de outubro de 1226. Passados dois anos incompletos, a 16 de julho de 1228, o Pobrezinho de Assis era canonizado por Gregório IX.

Na vida de São Francisco percebemos várias atitudes de misericórdia e de acolhimento ao próximo. Posso citar aqui um episódio em sua vida. Em 1206, passeando a cavalo pelas campinas de Assis, viu um leproso, que sempre lhe parecera um ser horripilante, repugnante à vista e ao olfato, cuja presença sempre lhe havia causado invencível nojo. A partir dalí passou a visitar os hospitais e a servir os doentes, distribuindo entre os pobres ora as vestes, ora o dinheiro. Beijava as mãos de cada leproso a quem entregava uma esmola, conseguindo vitória total sobre si mesmo. Tornou-se tão amigo e familiar que gostava de ficar entre eles e servi-los.

Mas, então, como que movido por uma força superior, apeou do cavalo, e, colocando naquelas mãos sangrentas seu dinheiro, aplicou ao leproso um beijo de amizade. Talvez a motivação para este nobre e significativo gesto tenha sido a recordação daquela frase do Evangelho: “Tudo o que fizerdes ao menor de meus irmãos, é a mim que o fazeis” (Mt 10,42). 

São Francisco também é conhecido como o protetor dos animais e da natureza. “Toda a forma de vida é uma manifestação de Deus e está sob os nossos cuidados. Proteja o que é seu- sua fauna sua flora. As plantas e os animais embelezam a terra. São úteis ao homem e representam a riqueza da pátria.

Nunca se deve mutilar, destruir ou deixar que destruam estes bens. Vamos amar nossos animais domésticos. Vamos dar aos selvagens a paz que eles têm direito. Permitamos que enfeitem nossas florestas. Vamos amar os pássaros puros e belos, cantando nas ramagens, voando no espaço ilimitado, como verdadeiros símbolos de liberdade” (São Francisco de Assis).

Francisco também foi conhecido como homem da humidade. A humildade é garantia e honra de todas as virtudes. Ela deve estar na base de tudo. Por isso queria Francisco que seus confrades fossem “menores”, humildes servos de todos. Ele conseguiu ser o mínimo entre os menores! A humildade é o ponto central do espírito franciscano. Ela é a raiz da santidade profunda de Francisco.

Apesar de ser tão querido, famoso e tratado por muita gente como santo, Francisco achava-se um miserável diante de Deus e dos homens. Na sua humildade, costumava dizer que, se Deus tivesse dado os mesmos dons a um outro pecador, este, na certa, seria dez vezes melhor do que ele. Aos seus próprios olhos considerava-se apenas um pobre pecador.

Que a vida de São Francisco nos motive a olhar e cuidar das criaturas e da nossa própria vida tendo presente que ela é um dom de Deus. Que possamos também acolher os mais necessitados e aqueles que vivem à margem na sociedade e acolher. Que nós, os servidores ordenados do Evangelho, nos façamos menores, homens da misericórdia e arautos da caridade, para que o “Altíssimo, Onipotente e Bom Senhor” continue sendo louvado, bendito e anunciado com grande humanidade para que todos conheçam a salvação e a paz! São Francisco de Assis, rogai por nós!

+ Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG

Artigo: Perdoar sem limites. Viver a alegria da compaixão!


"Experimentar o amor de Deus e se deixar transformar por Ele significa assumir uma outra atitude para com os irmãos" - AP
17/09/2017 07:00

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Juiz de Fora (RV) - Estamos celebrando mais um dia do Senhor, agora o 24º Domingo do Tempo Comum, que tem como tema central o PERDÃO. Deus ama sem cálculos, sem limites e sem medida. Deus nos convida a assumir uma atitude semelhante para com os irmãos que, dia a dia, caminham ao nosso lado. E, de minha parte, faço um digressão: nenhum padre e nenhum bispo ouse celebrar a Eucaristia se não perdoar o irmão e se não tiver compaixão.

A compaixão é o tema central do Evangelho deste domingo, em que não te digo perdoar até sete vezes, mas até setenta vezes sete(cf. Mt 18,21-25). São Mateus nos apresenta um Deus cheio de bondade e de misericórdia que derrama sobre os seus filhos – de forma total, ilimitada e absoluta – o seu perdão. Nós que somos batizados somos convidados a descobrir a lógica de Deus e a deixar que a mesma lógica de perdão e de misericórdia sem limites e sem medida marque a nossa relação com os irmãos.

Perguntado por Pedro a respeito de quantas vezes que devemos perdoar, Jesus responde que o perdão deve ser dado “até setenta vezes sete”(cf. Mt 18,24) E o perdão vem seguido da parábola contrastante do modo de agir. Primeiramente temos um patrão que, diante da súplica insistente do devedor, que lhe devia enorme quantidade monetária, foi capaz de perdoar(cf. Mt 18,27). Do outro lado, o que foi perdoado regiamente pelo patrão não soube perdoar ao seu devedor, que lhe devia pequena e insignificante quantia monetária(cf. Mt 18,30). Jesus, com isso fala da reação do patrão, que procurado pelos entristecidos outros empregados, vai ao encontro daquele que fora perdoado e não perdoou e diz categoricamente: “Não devias tu também ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti”(cf. Mt 18,33).

Infelizmente observamos muitas pessoas, na sociedade e na Igreja, pedir perdão de suas faltas e não perdoar, na mesma medida que foram perdoados, aqueles que lhe devem alguma quantia. Jesus acentua, neste Evangelho, o valor do perdão na comunidade cristã e a sua medida deve ser sem limites. O perdão de Deus não é negado para ninguém. Ninguém cumpre pena perpétua. Toda pena tem a sua remissão, desde que se tenha arrependimento e mudança de vida.

Entretanto, sabendo que muitos querem ser perdoados e não sabem perdoar a primeira leitura(cf. Eclo 27,33-38,9) deixa claro que a ira e o rancor são sentimentos maus, que não convêm à felicidade e à realização do homem. Mostra como é ilógico esperar o perdão de Deus e recusar-se a perdoar ao irmão; e avisa que a nossa vida nesta terra não pode ser estragada com sentimentos, que só geram infelicidade e sofrimento. O livro do Eclesiástico é categórico: “O rancor e a raiva são coisas detestáveis; até o pecador procura dominá-las. Quem se vingar encontrará a vingança do Senhor, que pedirá severas contas de seus pecados. Perdoa a injustiça cometida por teu próximo: assim, quando orares, teus pecados serão perdoados”(Cf. Eclo 27,33-28,1-2). A vingança é nefasta, por isso devemos escolher sempre a prática do perdão e da compaixão. Somente obterá a divina recompensa quem perdoar a injustiça cometida por teu próximo. A vivência da misericórdia deve ser acolhida, partilhada e vivenciada individualmente e comunitariamente. A sabedoria do homem é perdoar e recomçar, agradecendo a Deus todas as vezes que perdoamos os que nos ofendem: “O Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso”(Sl 102(103).

Na segunda leitura (cf. Rm 14,7-9) São Paulo sugere aos cristãos de Roma que a comunidade cristã tem de ser o lugar do amor, do respeito pelo outro, da aceitação das diferenças, do perdão. Ninguém deve desprezar, julgar ou condenar os irmãos que têm perspectivas diferentes. Os seguidores de Jesus devem ter presente que há algo de fundamental que os une a todos: Jesus Cristo, o Senhor. Tudo o resto não tem grande importância. Não é possível ser cristão se manter viva na comunidade a união e a fraternidade, aonde são plantados os valores da caridade, da solidariedade, da tolerância, do respeito, tudo por amor a Jesus Cristo, porque ninguém se esqueça que todos vivemos para o Senhor(Cf. Rm 14,8).

Experimentar o amor de Deus e se deixar transformar por Ele significa assumir uma outra atitude para com os irmãos, uma atitude marcada pela bondade, pela compreensão, pela misericórdia, pelo acolhimento, pelo amor.

+ Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG

Mês da Bíblia: anunciar o Evangelho e dar a própria vida


No estudo da Palavra de Deus, na sua leitura, na sua “lectio divina” Deus escuta aos homens e mulheres e responde às suas inquietudes
04/09/2017 07:33

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Juiz de Fora (RV) - Setembro vem chegando florido e, para nós católicos, é o mês dedicado à Bíblia. Mais algumas pessoas me indagaram porque um mês para a Bíblia? A finalidade deste mês temático é para que povo católico se aproxime mais das Sagradas Escrituras, no cotidiano e no trabalho a leia e medite, a conheça e aprofunde os seus conhecimentos bíblicos, promovendo cursos bíblicos, etc..

São Pedro ensinou que: “Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus” (2 Pd 1,20-21). A Carta aos Hebreus nos lembra de que que “a palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes, e atinge até à divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4,12).

O mês da Bíblia de 2017 é dedicado ao estudo da Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses. Tem como fundamento anunciar o Evangelho e dar a própria vida. Tema: para que n´Ele nossos povos tenham vida – Primeira Carta aos Tessalonicenses. O tema do mês da Bíblia é “Ser Discípulos Missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida”, em sintonia com o Documento de Aparecida.

Lema: Anunciar o Evangelho e doar a própria vida (cf. 1Ts 2, 8). 

Uma sugestão seria a realização de quatro encontros comunitários neste mês. Pode-se acessar o site https://www.paulinas.org.br/loja/anunciar-o-evangelho-e-doar-a-propria-vida e baixar gratuitamente o subsídio. “Este fascículo tem como objetivo proporcionar aos grupos de reflexão e círculos bíblicos um encontro pessoal e comunitário com a Palavra, a partir da Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses. O subsídio contém quatro encontros precedidos por um texto preparatório sobre o texto bíblico abordado. O primeiro encontro reflete sobre a identidade cristã, que é revelada a partir da fé, da esperança e do amor, virtudes que sustentam a vida pessoal e da comunidade (1Ts 1,2-10). O tema da edificação do trabalho como dignidade para a vida (1Ts 4,9-12) é abordado no segundo encontro. A vinda do Senhor e a crença na ressurreição são os temas do terceiro encontro, elementos que revelam a esperança cristã (1Ts 4,13-5,11).

O quarto encontro retrata a comunidade cristã, vivida na alegria, em oração e no discernimento (1Ts 5,12-22). O último encontro é reservado para a celebração de encerramento, fazendo memória dos quatro encontros anteriores”.

No estudo da Palavra de Deus, na sua leitura, na sua “lectio divina” Deus escuta aos homens e mulheres e responde às suas inquietudes. Nesse sentido é sempre bom lembrar o que nos ensina a Igreja: “Neste diálogo com Deus, compreendemo-nos a nós mesmos e encontramos resposta para as perguntas mais profundas que habitam no nosso coração. De fato, a Palavra de Deus não se contrapõe ao homem, nem mortifica os seus anseios verdadeiros; pelo contrário, ilumina-os, purifica-os e realiza-os. Como é importante, para o nosso tempo, descobrir que só Deus responde à sede que está no coração de cada homem! Infelizmente na nossa época, sobretudo no Ocidente, difundiu-se a ideia de que Deus é alheio à vida e aos problemas do homem; pior ainda, de que a sua presença pode até ser uma ameaça à autonomia humana.

Na realidade, toda a economia da salvação mostra-nos que Deus fala e intervém na história a favor do homem e da sua salvação integral. Por conseguinte é decisivo, do ponto de vista pastoral, apresentar a Palavra de Deus na sua capacidade de dialogar com os problemas que o homem deve enfrentar na vida diária. Jesus apresenta-Se-nos precisamente como Aquele que veio para que pudéssemos ter a vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Por isso, devemos fazer todo o esforço para mostrar a Palavra de Deus precisamente como abertura aos próprios problemas, como resposta às próprias perguntas, uma dilatação dos próprios valores e, conjuntamente, uma satisfação das próprias aspirações. A pastoral da Igreja deve ilustrar claramente como Deus ouve a necessidade do homem e o seu apelo. São Boaventura afirma no Breviloquium: «O fruto da Sagrada Escritura não é um fruto qualquer, mas a plenitude da felicidade eterna. De facto, a Sagrada Escritura é precisamente o livro no qual estão escritas palavras de vida eterna, porque não só acreditamos mas também possuímos a vida eterna, em que veremos, amaremos e serão realizados todos os nossos desejos”(cf. Verbum Domini, 23).

Vivamos o mês da Bíblia anunciando o Evangelho, testemunhando a Palavra de Salvação com a coerência de nossa vida iluminada sempre pelas escrituras sagradas. Que Deus assim nos ajude!

+ Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG


Artigo: Dia da vida consagrada


O ponto alto de toda consagração é a vivência, por livre e espontânea vontade, dos chamados conselhos evangélicos, a pobreza, a castidade e a obediência - OSS_ROM
19/08/2017 07:00

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Juiz de fora (RV) - A vocação à vida consagrada, na Igreja, seja ela religiosa ou leiga, é celebrada no terceiro final de semana de agosto. O ponto alto de toda consagração é a vivência, por livre e espontânea vontade, dos chamados conselhos evangélicos, a pobreza, a castidade e a obediência.

É grande dom de Deus à Igreja em seus modos diversos de ser: contemplativo, missionário, caritativo ou secular (vive no mundo sem ser do mundo). Junto a esses modelos convencionais e mais comuns de consagração, a Igreja contempla também a vida eremítica (retirada, orante, penitente e silenciosa), bem como das virgens, que, dentro de um rito próprio entregam-se totalmente a Deus. Ao contrário do(a) eremita, elas podem formar associação a fim de se ajudarem mutuamente.

O Papa Francisco lembrou a necessidade do serviço generoso na vinha do Senhor e a alegria de rezar para ir ao encontro dos que mais precisam da ação da Igreja: “Nós consagrados somos consagrados para servir o Senhor e servir os outros com a Palavra do Senhor, não? Digam aos novos membros, por favor, digam que rezar não é perder tempo, adorar Deus não é perder tempo, louvar Deus não é perder tempo. Se nós consagrados não paramos todos os dias diante de Deus na gratuidade da oração, o vinho será vinagre!”. (https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/francisco/papa-aos-consagrados-nao-tenham-medo-de-renovar-estruturas/, último acesso em 15 de agosto de 2017).

Vemos, por esse breve ângulo, que na Igreja há acolhida a todo tipo de chamado recebido de Deus para servir aos irmãos e irmãs. Quero destacar que há críticas à vida contemplativa em um mundo agitado em demasia. Crê-se que não há o direito de alguém permanecer apenas diante do único e verdadeiro Absoluto de nossas vidas, que é Deus. Esquecemo-nos também de que a oração nunca é egoísta, mas elevada ao Pai celeste por intercessores qualificados a orar por mim e por você, certamente tão necessitados da misericórdia divina em nossas vidas.

Ao abraçar cada consagrado quero dizer-lhes da minha alegria pelo seu testemunho e pelo seu trabalho generoso. Continuem firmes na sua missão e que Nosso Senhor, por intercessão de Maria nossa Mãe, lhes conceda e a todos os homens e mulheres de boa vontade o que com fé Lhe pedimos suplicantes: "apresentarmo-nos diante [d’Ele] plenamente renovados no espírito". Que Deus nos ajude na missão!

+ Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG

Artigo: São Pedro e São Paulo


São Pedro e São Paulo
29/06/2016 08:00

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Juiz de Fora (RV) - O martírio dos dois grandes apóstolos em Roma foi sempre recordado com veneração pelos cristãos de todo o mundo.


Pedro nasceu em Betsaida, na Galileia. Casado ele morava em Cafarnaum quando conheceu Jesus. Em seu primeiro encontro com Jesus, ouviu-o dizer: “Tu é Simão, filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer pedra)”. Dar-lhe um novo nome queria indicar-lhe a missão a que estava destinado. Na última conversa de Jesus com Pedro, Jesus lhe profetizou o martírio. Enfim, vazio de si mesmo e revestido do Espírito do seu Senhor, podia edificar a Igreja – a casa que o Ressuscitado habitaria até o fim do mundo – e testemunhar com o sangue a própria fé.

Os ensinamentos de Pedro foram o cavalo de batalha de Paulo para defender a liberdade evangélica dos convertidos do paganismo.

São Paulo nasceu em Tarso da Cilícia. Além de ser judeu, era também cidadão romano. Destacou-se, inicialmente como um implacável perseguidor das comunidades cristãs. Sua conversão ocorreu de modo inesperado a caminho de Damasco, quando liderava uma perseguição contra os cristãos daquela cidade. Jesus Ressuscitado apareceu-lhe e o derrubou do cavalo, transformando-o de cruel perseguidor dos cristãos em ardoroso apóstolo dos gentios. A partir desse momento, Paulo consagrou a sua vida ao serviço de Cristo, viajando por todo o mundo conhecido do seu tempo, anunciando o Evangelho de Jesus Cristo e o mistério de sua paixão, morte e ressurreição.

São Pedro e São Paulo são os principais pilares do cristianismo, desde o seu nascimento.

Euzébio de Cesareia, em sua História Eclesiástica, diz: “Um só dia da paixão para os dois apóstolos, mas aqueles dois eram uma só coisa; sim, embora tenham sofrido em dias diferentes, eram uma coisa só. Primeiro precedeu Pedro, seguiu-o, depois, Paulo. Celebramos o dia festivo dos Apóstolos, consagrado para nós pelo seu sangue. Amemos a fé, a vida, as fadigas, as confissões, as pregações”.

+ Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG.

Artigo: Os 65 anos de sacerdócio de Bento XVI


O Senhor me chama para "subir a montanha", a dedicar-me ainda mais à oração e à meditação. Mas isto não significa abandonar a Igreja..." - ANSA
29/06/2016 03:30

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Juiz de Fora (RV) - O Papa Francisco quis sublinhar, de maneira indelével e solene, a efeméride dos 65 anos de ordenação sacerdotal de Sua Santidade, o Papa Emérito Bento XVI e de seu irmão Georg. As comemorações, na Sala Clementina, no Palácio Apostólico, se sucederão na manhã do dia 28 de junho de 2016, com a presença do Colégio Cardinalício e de tantos colaboradores da Cúria Romana, em ação de graças pelos muitos benefícios que o ministério sacerdotal de Joseph Ratzinger constituíram-se em favor do crescimento do Reino de Deus, do ensino atualizado da Sagrada Teologia e da sua teologia da continuidade do Concílio Ecumênico Vaticano II, além de sua excepcional produção intelectual e de seus documentos pontifícios que iluminam a nossa fé de maneira cristalina.

Diria que o grande Bento XVI, poderia ser chamado de o papa magno do ensino teológico, e do vivo testemunho de humildade. Enquanto os homens deste mundo procuram o poder humano e até o poder de regime eclesiástico, mesmo lúcido, o Papa Bento XVI abriu espaço para que a figura canônica do Papa Emérito fosse instituída, de maneira perene, na tradição da Igreja, como a do Bispo Emérito, que só passou a ser uma realidade palpável, com o advento do Código de Direito Canônico de 1983, quando São João Paulo II assim dispôs: “O Bispo diocesano que tiver completado setenta e cinco anos de idade é solicitado a apresentar a renúncia do ofício ao Sumo Pontífice, que, ponderando todas as circunstâncias, tomará providências”(Cf. Cânon 401, parágrafo 1º).

O Papa Bento XVI, lucidamente e livremente, no pleno exercício de seu frutuoso ministério de Sucessor de Pedro, foi o primeiro a inaugurar, o que prevê o Código de Direito Canônico: “Se acontecer que o Romano Pontífice renuncie a seu múnus, para a validade se requerer que a renúncia seja livremente feita e devidamente manifestada, mas não que seja aceita por alguém”(Cf. Cânon 332, parágrafo 2º). Lembro-me, ainda hoje, daquela manhã de carnaval de 11 de fevereiro de 2013, em que o Papa Bento XVI, de maneira consciente, assim se dirigiu ao Sacro Colégio Cardinalício e a todo o orbe cristão: “Convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice. Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus”.

A graça de Deus conduziu o Papa emérito Bento XVI para a vida contemplativa, de oração em favor da Igreja e de seu sucessor, a quem devota profunda reverência e espírito de obediência, afastando qualquer equívoco em que há dois Papas. Bento XVI, dedicando-se à oração, ao estudo, dá um testemunho explendido de sua consciência de que como Bispo emérito, a sua principal missão, é testemunhar a verdade contra todos os ventos contrários que muitas vezes querem bater sobre a Mãe Igreja.

Fidelidade, antes de tudo à Deus e à Sagrada Escritura, o Papa Bento XVI segue a sua vida nos apontando para o Cristo Sumo e Eterno Pastor. Bento XVI espiritualmente forte, pois somente um homem forte e corajoso seria capaz de um gesto tão exigente e impactante de renunciar ao Primado de Pedro, assumiu tal decisão, serenamente, de modo consciente e livre, “diante de Deus”, pelo bem da Igreja, pois reconheceu que suas forças “já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino”. Num mundo marcado pela idolatria do poder, dentro e fora da Igreja, de busca desenfreada de aparecer na mídia e de mandar por mandar, a renúncia e a vida contemplativa e orante de Bento XVI adquire especial sentido profético, interpelando aos que se apegam ao poder. O seu gesto é portador de valores; faz pensar sobre o sentido do poder como serviço, sobre a perenidade de valores éticos e espirituais fundamentais para a humanidade, em meio à provisoriedade deste mundo.

Mais hoje queremos falar do ministério presbiteral de Bento XVI. Diariamente, com a ajuda de seu secretário e das consagradas que o assistem, inicia o seu dia com a Santa Missa no Mosteiro Mater Ecclesia. Homem contemplativo passa o dia dedicado à oração e a gastar a sua vida pela Igreja. Imolou-se ao mundo para viver, já aqui na terra, as consolações do céu. Seu sorriso, seu olhar penetrante, sua delicadeza impar e o seu gesto, particularmente comigo, de me escrever pessoalmente que, já naquele momento bispo emérito, eu não estava fora da Igreja, por ter vencido por limite de idade meu período de Bispo Diocesano, mais continuava Bispo da Igreja, como todos os bispos, com as mesmas responsabilidades diárias de testemunhar o Ressuscitado e de anunciar, oportuna e inoportunamente, o Evangelho me levam a dar graças a Deus pela vida e pelo ministério deste grande homem, Bento XVI, doutor magno da teologia e pai do desprendimento moderno. Deus conserve Bento XVI e lhe dê longos anos de vida e saúde. Abençoe-nos, querido e sábio homem de fé, patriarca da Igreja.

Será lançado, no dia 28 de junho, um livro que retrata a vida e o ministério presbiteral do Papa Ratzinger, que tem prefácio do Papa Francisco que usa uma expressão de Hans Urs von Balthasar - "Teologia de joelhos" - para elogiar o testemunho exemplar do predecessor: "Antes mesmo de ser um grandíssimo teólogo e mestre da fé, vê-se que é um homem que realmente acredita, que realmente reza; vê-se que é um homem que personifica a santidade, um homem de paz, um homem de Deus". O Papa Francisco se refere quando escreve que "talvez seja precisamente hoje, como Papa emérito", que Bento XVI "nos conceda em modo mais evidente uma entre as suas maiores lições de "teologia de joelhos". Renunciando "ao exercício ativo do ministério petrino", Bento XVI decidiu "dedicar-se totalmente ao serviço da oração". E do Mosteiro Mater Ecclesiae - completa Francisco - mostra o essencial aos sacerdotes: não o ativismo do "fazer" mas "rezar pelos outros, sem interrupção, alma e corpo".

Celebrar a vida de Bento XVI é lançar um olhar sobre os bispos eméritos. Muitos deles passam por privações ou por dificuldades. Muitos são esquecidos ou mesmo perseguidos. Hoje se fala mais, com coragem, da missão que continua do Bispo Emérito. Por isso mesmo, entre os que estão tendo coragem de continuar sua missão, valeria a pena ler o livro “O êxodo de um Bispo Diocesano”. Esse livro ilumina a vida de todos os eméritos que tem muito a oferecer à Igreja e a testemunhar pela sua vida. O Papa Bento XVI disse em seu último Angelus: "O Senhor me chama para "subir a montanha", a dedicar-me ainda mais à oração e à meditação. Mas isto não significa abandonar a Igreja...". Com Bento XVI repito suas palavras, rezando com ele, por ele e pela Igreja e testemunhando que nós, os bispos eméritos, não abandonamos a Igreja, mais ao contrário estamos mergulhados em Deus.

+ Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG.