segunda-feira, 27 de março de 2017


Bispos do Canadá ao Papa: diálogo ecumênico para melhor convivência entre os povos


A audiência no Vaticano foi em visita ad Limina - AFP
27/03/2017 16:54

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Cidade do Vaticano (RV) – Na manhã desta segunda-feira (27), o Papa Francisco recebeu em visita ad Limina, no Vaticano, os bispos da Conferência Episcopal do Canadá Ocidental.

Muitos são os desafios sociais e as problemáticas pastorais para Igreja católica naquele país, nos últimos anos, um dos mais secularizados ao mundo e entre aqueles mais avançados na legitimação de práticas controversas que interpelam questões éticas como a reprodução assistida, a clonagem humana, a eutanásia e o suicídio assistido.

O comprometimento dos bispos sobre tantas temáticas abertas é grande para levar a mensagem evangélica ao coração de cada pessoa. A Igreja canadense é assídua sobre argumentos como a paz no mundo, o desarmamento, o desenvolvimento sustentável e a proteção do ambiente, a justiça social, a defesa das populações indígenas, dos imigrantes e refugiados, de todos os excluídos da sociedade.

Entre os temas mais dolorosos levantados em questão durante o encontro com o Pontífice, aquele sobre os casos de abusos e maus tratos às crianças, ocorridos no passado e que a Igreja canadense reconheceu e pediu perdão.

Na audiência com o Papa, os bispos também abordaram o profícuo diálogo ecumênico e inter-religioso em defesa dos princípios da solidariedade e da convivência dos povos, visto o recente ataque à mesquita de Quebec e as medidas restritivas de migração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A população, de 35 milhões de habitantes, é um mosaico de povos de diversas origens, agrupados em duas áreas culturais e linguísticas, ligadas à sua colonização: o país é bilíngue e multicultural, com o inglês e o francês como línguas oficiais. Historicamente influenciada, 40% são batizados católicos, um outro terço é de protestantes; os muçulmanos são 2%, seguidos de hebreus, budistas e hindus com 1% cada um. O Canadá é o segundo maior país do mundo, superado apenas pela Rússia, e um dos mais desenvolvidos do planeta. (AC)


Justiça e Paz: com direitos humanos, combater desconfortos e medos


Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada pela ONU em 10 de dezembro de 1948 - EPA
10/12/2016 14:46

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Cidade do Vaticano (RV) - Vivemos num mundo cheio de dificuldades em âmbito político, econômico, social e cultural. Cada vez mais pessoas se sentem inseguras” e do desconforto surge o medo. Neste Dia Internacional dos Direitos Humanos – celebrado este sábado, 10/12 –, a rede europeia das comissões nacionais católicas de Justiça e Paz recorda que “os instrumentos para combater as dificuldades e os medos são os direitos humanos”, que, porém, “não são assegurados e garantidos para sempre; todos os dias é preciso lutar por eles”.
 


Defender a abolição da pena de morte e tutelar a segurança

Nesta fase histórica – afirma numa mensagem reportada pela agência Sir –, defendê-los significa em particular apoiar “a abolição universal da pena de morte” e tutelar “o direito à liberdade e à segurança; à liberdade de expressão e de religião; o direito de migração e de asilo ou de proteção em caso de expulsão e de extradição; o respeito pela diversidade cultural e religiosa; e o desenvolvimento integral sustentável”.

Não à discriminação

À distância de 68 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada pela ONU em 10 de dezembro de 1948, a rede europeia das comissões nacionais católicas de Justiça e Paz quer neste Dia Internacional dos Direitos Humanos renovar seu compromisso a “combater a discriminação, em particular a discriminação múltipla, as escravidões modernas, todas as formas de racismo e de ódio verbal, sobretudo nas redes sociais” e adverte:

“Aceitar as transgressões por parte de alguns atores públicos corre o risco de abrir a porta à intolerância ou até mesmo a crimes de ódio”. Os direitos humanos são “indivisíveis”, recorda a associação, e devem garantir dignidade “aos indivíduos e às comunidades”. “O atual clima de medo requer que continuemos levando adiante nossos compromissos.” (RL)


    Papa Francisco com os líderes da União Europeia - REUTERS
    24/03/2017 20:04

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    Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco recebeu na tarde desta sexta-feira (24/03), no Vaticano, os Chefes de Estado e de Governo da União Europeia por ocasião do 60° aniversário dos Tratados de Roma. 

    Os Tratados de Roma, assinados em 25 de março de 1957, na capital italiana, fazem referência à constituição da Comunidade Econômica Europeia (rebatizada nos Anos 90 como União Europeia), e à Euratom, a Comunidade Europeia da Energia Atômica (hoje autônoma). A assinatura dos Tratados representou um marco na história geopolítica do mundo, por culminar de um processo pós-Segunda Guerra Mundial que deixou a Europa econômica e politicamente destruída.

    “Voltar a Roma após sessenta anos, não pode ser apenas uma viagem de recordações. É preciso identificar-se com os desafios de então para enfrentar aqueles de hoje e de amanhã. Não se pode compreender o tempo em que vivemos sem o passado, entendido não como um conjunto de acontecimentos distantes, mas como a linfa vital que se destaca no presente”, disse Francisco em seu discurso.



    Futuro melhor

    Depois dos anos obscuros e cruentos da Segunda Guerra Mundial, os líderes da época acreditaram na possibilidade de um futuro melhor. 

    Os Pais fundadores nos recordam que a Europa não é um conjunto de regras a serem observadas, nem um prontuário de protocolos e procedimentos a serem seguidos. Ela é uma vida, um modo de conceber o homem, a partir da sua dignidade transcendente e inalienável, e não apenas um conjunto de direitos a serem defendidos ou de pretensões a serem reivindicadas. 

    Roma, com a sua vocação de universalidade, é o símbolo desta experiência e, por isso, foi escolhida como lugar da assinatura dos Tratados, porque aqui “foram lançadas as bases políticas, jurídicas e sociais da nossa civilização”.

    Solidariedade

    “O primeiro elemento da vitalidade europeia é a solidariedade. Este espírito é muito necessário, hoje, diante dos impulsos centrífugos, como também da tentação de reduzir os ideais básicos da União às necessidades produtivas, econômicas e financeiras.

    Em um mundo, que conhecia bem o drama dos muros e as divisões, era bem evidente a importância de trabalhar por uma Europeia unida e aberta e o desejo comum de remover aquela barreira inatural que, do Mar Báltico ao Adriático, dividia o continente. Quanto esforço para abater aquele muro! Não obstante, hoje, perdeu-se a memória daquele esforço. Perdeu-se até a consciência do drama das famílias separadas, da pobreza e da miséria que aquela divisão provocou. Onde as gerações tinham a ambição de ver abatidos os sinais de inimizade forçada, agora se discute como excluir os “perigos” do nosso tempo, a partir da longa fila de mulheres, homens e crianças, em fuga da guerra e da pobreza, que pedem somente a possibilidade de um futuro para si e para seus entes queridos.

    Para os Pais fundadores era clara a consciência de se fazer parte de uma obra comum, que não ia apenas além dos confins dos Estados, mas também daqueles do tempo, a ponto de unir as gerações entre si, todas igualmente partícipes da construção da Casa comum.

    Crise entre as instituições

    Nos últimos sessenta anos, o mundo mudou muito. 

    Uma crise econômica, que se destacou no último decênio; uma crise familiar e de modelos sociais consolidados; uma difundida “crise entre as instituições” e a crise dos migrantes: tantas crises que ocultam o medo e o extravio profundo do homem contemporâneo, que exige uma nova hermenêutica para o futuro. 

    Este, portanto, é um tempo de discernimento, que nos convida a avaliar o essencial e a construir sobre ele: logo, é um tempo de desafios e de oportunidades.

    “O que os Pais fundadores nos deixaram? As respostas podem ser encontradas nos pilares sobre os quais eles quiseram edificar a Comunidade Econômica Europeia: Centralidade do homem, solidariedade concreta, abertura ao mundo, busca da paz e do desenvolvimento, abertura ao futuro. Quem governa tem a tarefa de discernir os caminhos da esperança”, frisou o Papa.

    Espírito de família

    A Europa reencontra esperança quando o homem é o centro e o coração das suas instituições. 

    Afirmar a centralidade do homem significa também reencontrar o espírito de família, em que cada um contribui livremente segundo as próprias capacidades e dotes, à casa comum. É oportuno ter presente que a Europa é uma família de povos e - como em toda boa família - existem susceptibilidades diferentes, mas todos podem crescer na medida em que se está unido. A União Europeia nasce como unidade das diferenças e unidade nas diferenças. As peculiaridades não devem por isto assustar, nem se pode pensar que a unidade seja preservada da uniformidade. Ela é antes a harmonia de uma comunidade.

    A Europa reencontra esperança na solidariedade, que é também o mais eficaz antídoto aos populismos modernos.

    A solidariedade não é somente um bom propósito: é caracterizada por fatos e gestos concretos, que aproximam ao próximo, em qualquer condição este se encontre. Ao contrário, os populismos nascem precisamente do egoísmo, que fecha em um círculo restrito e sufocante e que não permite de superar o limite dos próprios pensamentos e "olhar além". É preciso recomeçar a pensar de modo europeu, para esconjurar o perigo oposto de uma cinzenta uniformidade, ou mesmo o triunfo dos particularismos.

    A Europa reencontra esperança quando não se fecha no medo de falsas seguranças.

    Não se pode limitar em administrar a grave crise migratória destes anos como se fosse somente um problema numérico, econômico ou de segurança. A questão migratória coloca uma pergunta mais profunda, que é antes de tudo cultural. Qual cultura propõe a Europa hoje? O medo que frequentemente se adverte encontra, de fato, na perda dos ideais, a sua causa mais radical. Sem uma verdadeira perspectiva ideal se acaba por ser dominados pelo temor que o outro nos prive dos hábitos consolidados, nos prive dos confortos adquiridos, coloque em discussão um estilo de vida feito muito frequentemente somente de bem-estar material. Pelo contrário, a riqueza da Europa sempre foi a sua abertura espiritual e a capacidade de colocar-se perguntas fundamentais sobre o sentido da existência.

    A Europa reencontra esperança quando investe no desenvolvimento e na paz. O desenvolvimento não é dado por um conjunto de técnica produtivas.

    "O desenvolvimento é o novo nome da paz", afirmava Paulo VI, pois não existe verdadeira paz quando existem pessoas marginalizadas ou obrigadas a viver na miséria. Não existe paz onde falta trabalho ou a perspectiva de um salário digno. Não existe paz nas periferias das nossas cidades, nas quais se dissemina droga e violência.

    Abertura ao futuro

    A Europa reencontra esperança quando se abre ao futuro. Quando se abre aos jovens, oferecendo a eles perspectivas sérias de educação, reais possibilidades de inserção no mundo do trabalho. Quando investe na família, que é a primeira e fundamental célula da sociedade. Quando respeita a consciência e os ideais de seus cidadãos. Quando garante a possibilidade de fazer filhos, sem o medo de não poder mantê-los. Quando defende a vida em toda a sua sacralidade”.

    No geral aumento da perspectiva de vida, sessenta anos são hoje considerados o tempo da plena maturidade. Uma idade crucial na qual mais uma vez se é chamados a colocar-se em discussão. Também a União Europeia é chamada hoje a colocar-se em discussão, a cuidar das inevitáveis doenças que vem com os anos e a encontrar percursos novos para prosseguir o próprio caminho. À diferença, porém, de um ser humano de sessenta anos, a União Europeia não tem diante de si uma inevitável velhice, mas a possibilidade de uma nova juventude. 

    (JE/MT)

    Bispos de El Salvador: convite ao Papa para canonizar Romero no país


    "Convidamos a ir ao país em 15 de agosto, dia do centenário do nascimento", disse Dom José - EPA
    20/03/2017 16:55

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    Cidade do Vaticano (RV) – Na manhã desta segunda-feira (20), em visita ad Limina, o Papa Francisco recebeu os bispos de El Salvador. Entre os temas colocados em pauta, a canonização de Dom Óscar Romero, assassinado em 24 de março de 1980 durante a guerra civil salvadorenha, enquanto celebrava missa na capela do Hospital Divina Providência. Em agosto deste ano será lembrado o aniversário de 100 anos do seu nascimento e a comunidade daquele país espera que a canonização possa acontecer ainda neste ano.


    O arcebispo de San Salvador e presidente da Conferência Episcopal, Dom José Luis Escobar Alas, esteve presente na audiência com o Papa e comentou como procede a causa de Romero.

    Dom José - "Em 28 de fevereiro concluímos a investigação do processo para o milagre. Gostaríamos que o Papa canonizasse Romero em El Salvador e o convidamos a ir ao país em 15 de agosto, dia do centenário do seu nascimento. Talvez, se a Divina Providência quiser, o milagre será aprovado pela Santa Sé e o Papa deverá canonizá-lo em 15 de agosto. Seria uma bênção muito grande para nós! Gostaríamos também que fosse beatificado o Pe. Rutilio Grande, o sacerdote jesuíta que morreu mártir, como Romero, em 1977. A fase diocesana da sua causa de beatificação terminou no ano passado e a documentação já chegou na Congregação para as Causas dos Santos."

    Em El Salvador, mais de 90% da população é cristã. Segundo Dom José, essa característica junto à história dos mártires fizeram crescer as vocações, do diaconato e dos catequistas:

    Dom José - “À diferença de outros países que não têm muitas vocações, nós temos muitas. É um fenômeno interessante. A fé e a participação dos fiéis está aumentando. Devemos reconhecer, entretanto, que existe um número significativo de católicos que entraram em novos movimentos religiosos, que estão efetivamente em aumento. Vivemos essa situação e seria injusto não falar, mas somos otimistas.”

    Entre outros desafios pastorais da Igreja de El Salvador, segundo o arcebispo, está “a defesa da vida, em sentido amplo como justiça, verdade e paz numa sociedade marcada pela violência”.

    Dom José - “Escrevemos uma carta pastoral dedicada exatamente ao tema da violência. No documento, expressamos o nosso ponto de vista com uma análise histórica que evidencia como, infelizmente, o país tenha sofrido violência dos tempos da Conquista até o conflito armado do final do século passado, que terminou com um acordo de paz que não foi plenamente respeitado. Não foi uma verdadeira justiça, mas uma lei de anistia inapropriada, ilegítima, que escondeu tudo, inclusive os crimes contra a humanidade.”

    Paralelamente surgiu o fenômeno dos grupos violentos, o crime organizado, o narcotráfico, “um problema de exclusão social e de idolatria do dinheiro. Não se trata de uma luta pelos ideais, mas de uma busca ao poder e, para isso, não existem nem mesmo princípios”, explicou Dom José, ao abordar, inclusive, como enfrentar o problema do ponto de vista pastoral.

    Dom José - “Acreditamos que a solução seja criar um ambiente favorável. A violência não é uma causalidade: existe uma causa e é a pobreza. As regiões mais pobres do país são as mais violentas, aquelas que a sociedade abandonou. Por isso é importante que o governo e a sociedade inteira focalizem a atenção sobre essa realidade e criem realmente oportunidades de estudo para os jovens e de trabalho para os adultos.”

    O problema de base, então, que é também o econômico, é sempre o mesmo: “a miséria e a impossibilidade de prosseguir” que também gera o fenômeno migratório, afirmou o arcebispo.

    Dom José - “Quando uma parte da família emigra, a unidade familiar é rompida e as consequências são terríveis. Junto a isso se soma a problemática nos Estados Unidos: como sabemos, com o novo governo e o novo presidente americano se criou um clima de inquietude e de temor pelas deportações. Os nossos países não têm condições de repatriar todos os nossos compatriotas. Seria um desastre para eles e para aqueles que acolherão. Certamente, como Igreja, estamos com os braços abertos e vamos trabalhar sem cansar para os nossos irmãos.”

    Nesta terça-feira (21), os bispos de El Salvador participarão da missa do Papa na capela da Casa Santa Marta, no Vaticano. (AC)

    quarta-feira, 22 de março de 2017


    Papa concede Ano Jubilar com Indulgência Plenária ao Santuário de Fátima


    2017, 100 anos das aparições de Nossa Senhora em Fátima - AFP
    06/01/2017 16:53

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    Fátima (RV)– O Papa Francisco concedeu ao Santuário de Fátima um Ano Jubilar, no contexto dos 100 anos das Aparições de Nossa Senhora, com Indulgência Plenária até 26 de novembro.




    Confissão sacramental, comunhão eucarística e oração pelas intenções do Santo Padre”, são as condições para que os fiéis “penitentes e animados de caridade” obtenham a Indulgência Plenária concedida pelo Santo Padre.

    Segundo o site da Diocese Leiria-Fátima, poderão obter a Indulgência “os fiéis que visitarem em peregrinação o Santuário de Fátima e aí participarem devotamente em alguma celebração ou oração em honra da Virgem Maria, rezarem a oração do Pai-Nosso, recitarem o símbolo da fé (Credo) e invocarem Nossa Senhora de Fátima”

    A mesma graça poderá ser obtida pelos fieis piedosos que “visitarem com devoção uma imagem de Nossa Senhora de Fátima exposta solenemente à veneração pública em qualquer templo, oratório ou local adequado, nos dias das aparições aniversárias (dia 13 de cada mês, de maio à outubro de 2017), e ali participarem devotamente em alguma celebração ou oração em honra da Virgem Maria, rezarem a oração do Pai - Nosso, recitarem o símbolo da fé (Credo) e invocarem Nossa Senhora de Fátima.

    Aos fiéis que, “pela idade, doença ou outra causa grave, estejam impedidos de se deslocarem, se, arrependidos de todos os seus pecados e tendo firme intenção de realizar, assim que lhes for possível, as três condições abaixo indicadas, frente a uma pequena imagem de Nossa Senhora de Fátima, nos dias das aparições se unirem espiritualmente às celebrações jubilares, oferecendo com confiança a Deus misericordioso através de Maria as suas preces e dores, ou os sacrifícios da sua própria vida”.

    Para obter a indulgência plenária, os fiéis, verdadeiramente penitentes e animados de caridade, devem cumprir ritualmente as seguintes condições: confissão sacramental, comunhão eucarística e oração pelas intenções do Santo Padre.

    De acordo com o Direito Canônico, para alcançar a indulgência, que pode ser parcial ou plenária - conforme liberta parcial ou totalmente da sanção devida pelos pecados - requer-se, além da exclusão de qualquer apego ao pecado, o cumprimento da obra prescrita pela Igreja, os Sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia, bem como a oração pelas intenções do Papa.

    (JE com Agência Ecclesiae)

    Os Papas e Portugal, uma relação que vem de longe


    Francisco será o quarto Papa a visitar Portugal - RV
    21/03/2017 10:31

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    Lisboa (RV) – Com a viagem a Fátima nos dias 12 e 13 de maio, Francisco será o quarto Pontífice a visitar Portugal, depois de Paulo VI (1967), João Paulo II (1982, 1991 e 2000) e Bento XVI (2010).

    Pio XI

    A relação dos Papas com o Santuário português teve início em 1929, com a bênção de Pio XI a uma imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima para a capela do Pontifício Colégio Português de Roma.

    Pio XII

    No pontificado seguinte, Pio XII assumiu Fátima como um acontecimento de toda a Igreja e em 31 de outubro de 1942, consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria, em plena II Guerra Mundial; o Santuário assinala, ainda hoje, o encerramento do Ano Santo em 13 de outubro de 1951.

    João XXIII

    São João XXIII visitou Fátima no dia 13 de maio de 1956, quando era Patriarca de Veneza. As viagens internacionais dos Papas modernos são uma novidade que remonta à segunda metade do século XX, com o pontificado de Paulo VI (1897-1978).

    Portugal entraria na rota das visitas apostólicas logo na quinta viagem deste Pontífice italiano, em 13 de maio de 1967, por ocasião do 50º aniversário das aparições marianas, reconhecidas pela Igreja Católica, na Cova da Iria.

    Paulo VI

    Paulo VI quis ir pessoalmente a Fátima como peregrino, em 13 de maio de 1967, ficando alojado na então Diocese de Leiria (hoje Leiria-Fátima). Além da homilia na missa de 13 de maio, no 50º aniversário das Aparições, Paulo VI teve outros seis pronunciamentos.

    João Paulo I

    João Paulo I esteve em Portugal como Patriarca de Veneza em julho de 1977, passando por Fátima e encontrando-se com a Irmã Lúcia.

    João Paulo II

    São João Paulo II, que em 13 de maio de 1981 tinha sido ferido a tiros em atentado na Praça de São Pedro, foi à Cova da Iria um ano depois, agradecer a intercessão de Nossa Senhora de Fátima para sua recuperação.

    Passou ainda por Lisboa, Vila Viçosa, Coimbra, Braga e Porto, ao longo de quatro dias (12-15 de maio), proferindo um total de 22 pronunciamentos.
    O Papa polonês voltou a Portugal nove anos depois: em 10 maio de 1991, João Paulo II celebrou missa no Estádio do Restelo e viajou depois para Açores e Madeira, antes de deter-se no Santuário de Fátima nos dias 12 e 13 maio.

    Durante quatro dias, São João Paulo II proferiu 12 intervenções e enviou ainda uma carta, desde a Cova da Iria, aos bispos católicos da Europa, que preparavam uma assembleia especial do Sínodo dos Bispos dedicada ao Velho Continente.

    Em 12 e 13 de maio de 2000, já com a saúde debilitada, João Paulo II regressou a Portugal para presidir à beatificação dos pastorzinhos Francisco e Jacinta Marto; proferiu um discurso na chegada, no aeroporto internacional de Lisboa, a homilia na missa de 13 de maio e uma saudação aos doentes reunidos na Cova da Iria.

    Na mesma ocasião deu-se o anúncio da publicação da terceira parte do chamado “Segredo de Fátima”.

    Bento XVI

    Bento XVI visitou Portugal de 11 a 14 de maio de 2010, para assinalar o décimo aniversário da beatificação de Francisco e Jacinta Marto, presidindo às celebrações da peregrinação internacional na Cova da Iria, nos dias 12 e 13 de maio.

    Em Lisboa, o Papa alemão reuniu milhares de pessoas numa missa no Terreiro do Paço; já em Porto, nova multidão acorreu à Praça dos Aliados para a celebração eucarística que encerrou uma viagem de quatro dias, com um total de 18 intervenções.

    Francisco

    Em 2017, é a vez da visita do Papa Francisco a Fátima, para a celebração do Centenário das Aparições, numa viagem centrada exclusivamente na Cova da Iria, onde em 13 de maio de 2013 o então Cardeal-Patriarca de Lisboa, Dom José Policarpo, consagrou o atual Pontificado a Virgem Maria.

    (CM-Ecclesia)

    segunda-feira, 13 de março de 2017




    Quarto ano de Pontificado: "Rezem por mim"


    Quatro anos de Pontificado do Papa Francisco - ANSA
    13/03/2017 08:00

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    Cidade do Vaticano (RV) - Nesta segunda-feira, 13, feriado no Vaticano, o Papa Francisco comemora seu quarto ano de Pontificado.




    Cardeal Bergoglio foi eleito em 13 de março de 2013, no segundo dia do Conclave, escolhendo o nome de Francisco. Ele é o primeiro Jesuíta a ser eleito Papa.

    Ao ser eleito, há quatro anos na Capela Sistina, perguntaram a Bergoglio se aceitava. E ele disse: "Eu sou um grande pecador. Mas, confiando na misericórdia e paciência de Deus, no sofrimento, aceito".

    Papa Francisco apareceu ao povo na sacada central da Basílica Vaticana, por volta das 20h30 (hora de Roma). Vestindo apenas a batina branca papal, dirigiu-se à multidão presente na Praça São Pedro, dizendo:

    “Irmãos e irmãs, boa noite! Vocês sabem que o objetivo do Conclave era eleger o Bispo de Roma. Meus irmãos Cardeais foram buscá-lo quase ao fim do mundo… Por isso, eis-me aqui! Agradeço a todos pela acolhida. Agora, a comunidade diocesana de Roma tem o seu Bispo. Obrigado!”.

    A seguir, Francisco acrescentou:

    “E agora iniciamos este caminho, o Bispo com seu Povo... o caminho da Igreja de Roma que preside a todas as outras Igrejas na caridade. Um caminho de fraternidade, de amor, de mútua confiança. Rezemos sempre uns pelos outros. Rezemos por todo o mundo, para que haja uma grande fraternidade. Espero que este caminho eclesial, que hoje começamos, com a ajuda do Cardeal Vigário, aqui presente, seja frutuoso para a evangelização desta Cidade tão bela!

    Dito isso, o novo Papa concedeu a sua Bênção Apostólica. Antes, porém, pediu um favor aos presentes:

    “Antes que o Bispo abençoe o povo, peço-lhes que rezem ao Senhor para que me abençoe: é a oração do povo, pedindo a Bênção para o seu Bispo. Façamos em silêncio esta oração por mim”.

    Assim, o Papa inclinou a cabeça, em sinal de oração, e todos na Praça fizeram silêncio por alguns momentos. Por fim, Francisco deu a sua primeira Bênção “Urbi et Orbi”, aos fiéis de Roma e do mundo inteiro, e concluiu desejando a todos "Boa noite e bom descanso!". (MT)


    Há 4 anos, Bento XVI anunciava sua renúncia


    O papa emérito - REUTERS
    11/02/2017 07:18

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    Cidade de Vaticano (RV) – Na manhã do dia 11 de fevereiro de 2013, Bento XVI anunciava ao mundo sua renúncia ao Pontificado. A decisão de renunciar ao cargo de líder da Igreja Católica o tornou o primeiro Papa a abdicar, depois de Gregório XII, em 1415, que o fizera durante o Grande Cisma do Ocidente. Bento foi o primeiro a renunciar sem pressão externa desde o Papa Celestino V, em 1294. Este foi um gesto inesperado, já que na história moderna os papas se mantiveram no cargo até a morte, para que só então fosse escolhido um sucessor. O motivo principal da renúncia de Bento XVI foi a sua saúde. Assim, o Conclave de 2013 elegeu seu sucessor: o Papa Francisco.


    Bento XVI havia anunciado a sua intenção de renunciar, falando em língua latina, na Sala do Consistório, no Vaticano, durante um encontro, na manhã do dia 11 de fevereiro de 2013, para anunciar a canonização de três mártires católicos, Antônio Primaldo e companheiros, Laura Montoya Upegui, e Maria Guadalupe Garcia Zavala. Durante o "Consistório para a canonização do mártires de Otranto", ele disse aos presentes que havia tomado "uma decisão de grande importância para a vida da Igreja".



    Em um comunicado, Bento XVI falou da sua fragilidade, devido à idade avançada, e das exigências físicas e mentais do papado. Ele também declarou que iria continuar a servir a Igreja "com uma vida dedicada à oração".

    Em 17 de fevereiro de 2013, falando em espanhol, durante a Audiência Geral, na Praça de São Pedro, Bento XVI pediu orações dos fiéis para si e para o novo papa.

    Eis o texto da declaração da sua renúncia:

    “Caríssimos Irmãos, convoquei-vos para este Consistório,não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice”.

    “Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus”. (SP-MT)

    1ª Pregação da Quaresma: O Espírito Santo nos introduz no mistério do Senhorio de Jesus


    O Espírito Santo e o Senhorio de Jesus, tema da primeira pregação da Quaresma do Frei Cantalamessa - ANSA
    10/03/2017 14:29

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    Cidade do Vaticano (RV) - Na manhã desta sexta-feira, 10 de março, o Pregador da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa, fez no Vaticano a primeira pregação da Quaresma intitulada "O Espírito Santo nos introduz no mistério do Senhorio de Jesus".

    Eis a sua reflexão na íntegra:

    1. "Ele me fará testemunho"

    Lendo a Oração da Coleta da Primeiro Domingo da Quaresma, me tocou este ano um detalhe. Nela, não se pede a Deus para para dar-nos a força de realizar alguma das obras clássicas deste tempo: jejum , oração, esmola; pede-se somente uma coisa: de fazer-nos "crescer no conhecimento de Cristo". Creio que seja realmente a obra mais bela e mais agradável ao Salvador e é o objetivo com o qual gostaria de contribuir com as meditações quaresmais deste ano.

    Prosseguindo a reflexão iniciada na pregação do Advento sobre o Espírito Santo que deve permear toda a vida e anúncio da Igreja ("Teologia do terceiro artigo!"), nestas meditações quaresmais nos propomos subir da terceira para a segunda parte do Creio. Em outras palavras, buscaremos ressaltar como o Espírito Santo "no introduz na verdade plena" sobre Cristo e sobre seu mistério pascal, isto é, sobre o ser e sobre o agir do Salvador.

    Do agir de Cristo em sintonia com o tempo litúrgico da Quaresma, procuraremos aprofundar o papel que o Espírito Santo desenvolve na morte e na ressurreição de Cristo e, após ele, na nossa morte e na nossa ressurreição.

    A segunda parte do Creio, na sua forma completa, diz assim: "Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstancial Pai: Por Ele todas as coisas foram criadas".

    Esta parte central do Creio reflete dois estágios diferentes da fé. A frase "Creio em um só Senhor Jesus Cristo", reflete a primeiríssima fé da Igreja, logo após a Páscoa. O que segue nesta parte do Creio: "Filho Unigênito de Deus..." reflete um estágio posterior, mais evoluído, sucessivo à controvérsia ariana e ao Concílio de Nicéia. Dediquemos a presente meditação à primeira parte - "creio em um só Senhor Jesus Cristo" - e vejamos o que o Novo Testamento nos diz sobre o Espírito Santo como autor do verdadeiro conhecimento de Cristo.

    São Paulo afirma que Jesus Cristo foi estabelecido "Filho de Deus com o poder mediante o Espírito de santidade" (Rom 1,4), isto é, por obra do Espírito Santo. Chega a afirmar que "ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, senão sob a ação do Espírito Santo" (1 Cor 12,3), isto é, graças a uma iluminação interior sua. Atribui ao Espírito Santo "a compreensão do mistério de Cristo" que foi dada a ele como a todos os santos apóstolos e profetas (cf. Ef 3, 4-5); diz que aqueles que creem serão capazes de "compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer a caridade (o amor) de Cristo que desafia todo o conhecimento" somente se forem "repletos do Espírito" (Ef 3, 16-19).

    No Evangelho de João, Jesus mesmo anuncia esta obra do Paráclito em relação a eles. Ele tomará do que é seu e o anunciará aos discípulos; recordará a eles tudo aquilo que disse; os conduzirá à verdade plena sobre sua relação com o Pai e os fará testemunhas (cf. Jo 16, 7-15). Precisamente isto será, desde então, o critério para reconhecer se se trata do verdadeiro Espírito de Deus e não de outro espírito: se leva a reconhecer Jesus que veio na carne (cf. 1 Jo 4,2-3).

    Alguns acreditam que a ênfase atual sobre o Espírito Santo possa colocar na sombra a obra de Cristo, como se esta fosse incompleta ou perfectível. É uma incompreensão total. O Espírito nunca diz "eu", nunca fala em primeira pessoa, não pretende fundar uma obra própria, mas sempre faz referência a Cristo. O Espírito Santo não faz coisas novas, mas faz novas todas as coisas! Não acrescenta nada às coisas "instituídas" por Jesus, mas as vivifica e renova.

    A vinda do Espírito Santo em Pentecostes traduz-se em uma repentina iluminação de todas as ações e a pessoa de Cristo. Pedro concluiu o seu discurso de Pentecostes com a solene definição, que hoje se diria "urbi et orbi": "Que toda a casa de Israel saiba, portanto, com a maior certeza de que este Jesus que vós crucificastes, Deus o constituiu Senhor (Kyrios) e Messias" (At 2,36).

    A partir daquele dia, a comunidade primitiva começou a repassar a vida de Jesus, a sua morte e a sua ressurreição, de maneira diversa; tudo pareceu claro, como se tivesse sido tirado um véu de seus olhos (cf. 2 Cor 3,16). Mesmo vivendo lado a lado com ele, sem o Espírito não tinham podido penetrar em profundidade em seu mistérios.

    Hoje está em andamento uma reaproximação entre teologia ortodoxa e teologia católica sobre este tema da relação entre Cristo e o Espírito. O teólogo Johannes Zizioulas, em um encontro realizado em Bolonha em 1980, por um lado manifestava reservas sobre a eclesiologia do Concílio Vaticano II porque, segundo ele, "o Espírito Santo era introduzido na eclesiologia depois que se tinha construído o edifício da Igreja somente com material cristológico"; por outro, porém, reconhecia que também a teologia ortodoxa tinha necessidade de repensar a relação entre cristologia e pneumatologia, para não construir a eclesiologia somente sobre uma base pneumatológica. Em outras palavras, nós latinos somos estimulados a aprofundar o papel do Espírito Santo na vida interna da Igreja (que foi o que ocorreu após o Concílio), e os irmãos ortodoxos o de Cristo e da presença na Igreja na história.

    2. Conhecimento objetivo e conhecimento subjetivo de Cristo

    Voltemos, portanto, ao papel do Espírito Santo em relação ao conhecimento de Cristo. Delineiam-se já, no âmbito do Novo Testamento, dois tipos de conhecimento de Cristo, ou dois âmbitos onde o Espírito desenvolve a sua ação. Existe um conhecimento objetivo de Cristo, de seu ser, de seu mistério e de sua pessoa, e existe um conhecimento mais subjetivo, funcional e interior, que tem por objeto o que Jesus "faz por mim", mais do que aquilo que ele "é em si mesmo".

    Em Paulo prevalece ainda o interesse pelo conhecimento daquilo que Cristo fez por nós, pela obra de Cristo e em particular o seu mistério pascal; já em João prevalece o interesse por aquilo que Cristo é: o "Logos" eterno que estava junto de Deus e veio na carne, que é "um com o Pai" (Jo 10,30).

    Para João, Cristo é sobretudo o Revelador, para Paulo é sobretudo o Salvador. Mas é somente nos fatos sucessivos que estas duas tendências ficarão evidentes. Fazemos uma breve referência a elas, porque isto nos ajudará a compreender qual é o dom que o Espírito Santo faz, neste campo, na Igreja hoje.

    Na época patrística, o Espírito Santo aparece sobretudo como garante da tradição apostólica em torno a Jesus, contra as inovações dos gnósticos. À Igreja - afirma Santo Irineu - foi confiado o Dom de Deus que é o Espírito; dele não são partícipes os que se separam da verdade pregada pela Igreja com suas falsas doutrinas. As Igrejas apostólicas - argumenta Tertuliano - não podem ter errado ao pregar a verdade. Pensar o contrário, significaria que "o Espírito Santo, para esta finalidade enviado por Cristo impetrado pelo Pai como mestre da verdade, ele que é o vigário de Cristo e o seu administrador, teria falhado no cumprimento de sua missão”. 

    Na época das grandes controvérsias dogmáticas, o Espírito Santo é visto como o custódio da ortodoxia cristológica. Nos concílios, a Igreja tem a firme certeza de ser "inspirada" pelo Espírito ao formular a verdade sobre as duas naturezas de Cristo, a unidade de sua pessoa, a totalidade de sua humanidade. O acento, portanto, é claramente sobre o conhecimento objetivo, dogmático, eclesial de Cristo.

    Esta tendência predominou, na teologia, até a Reforma. Com uma diferença, porém. Os dogmas que no momento de serem formulados eram questões vitais, fruto de viva participação, de toda a Igreja, uma vez sancionados e transmitidos, tendem a perder pungência, a tornarem-se formais. "Duas naturezas, uma pessoa", torna-se uma fórmula bela e acabada, mais do que o ponto de chegada de um longo e sofrido processo. Certamente não faltaram, em todo este tempo, esplêndidas experiências de um conhecimento de Cristo íntimo, pessoal, repleto de fervorosa devoção a Cristo, como aquelas de São Bernardo e de São Francisco de Assis; mas isso não influenciava muito na teologia. Também hoje disso se fala na história da espiritualidade, não naquela da teologia.

    Os reformadores protestantes invertem esta situação e dizem: "Conhecer Cristo significa reconhecer os seus benefícios, não pesquisar as suas naturezas e os modos de encarnação". O Cristo "para mim" aparece em primeiro plano. Ao conhecimento objetivo, dogmático, se opõe um conhecimento subjetivo, íntimo; ao testemunho externo da Igreja e das próprias Escrituras sobre Jesus, se antepõe o "testemunho interno" que o Espírito Santo dá a Jesus no coração de cada cristão.

    Quando, mais tarde, esta novidade teológica tenderá, ela mesma, no protestantismo oficial, a transformar-se em "morta ortodoxia", surgirão periodicamente movimentos, como o Pietismo no âmbito luterano e o Metodismo no anglicano, para trazê-la novamente à vida. O ápice do conhecimento de Cristo coincide, nestes âmbitos, com o momento em que, movido pelo Espírito Santo, o cristão toma conhecimento de que Jesus morreu "por ele", precisamente por ele, e o reconhece como seu Salvador pessoal:

    "Pela primeira vez de todo o coração eu acreditei;

    acreditei de fé divina,

    e no Espírito Santo encontrei a força

    de chamar meu o Salvador.

    Senti o sangue da expiação de meu Senhor

    diretamente derramado em minha alma".

    Completemos este rápido olhar para a história, acenando a uma terceira fase na maneira de perceber a relação entre o Espírito Santo e o conhecimento de Cristo, aquela que caracterizou os séculos do Iluminismo, do qual nós somos herdeiros diretos. Volta a predominar um conhecimento objetivo, separado; não mais, porém, do tipo ontológico, como na época antiga, mas histórico.

    Em outras palavras, não interessa saber quem é Jesus Cristo (a pré-existência, as naturezas, a pessoa), mas quem ele foi na realidade da história. É a época da busca do assim chamado "Jesus histórico"!

    Nesta fase, o Espírito Santo não desempenha mais nenhum papel no conhecimento de Cristo; está totalmente ausente. O "testemunho interno" do Espírito Santo passa a ser identificado com a razão e com o espírito humano. O "testemunho externo" é o único importante, mas com ele não se entende mais o testemunho apostólico da Igreja, mas unicamente aquele da história, comprovado com os diversos métodos críticos. O pressuposto comum deste esforço era de que para encontrar o verdadeiro Jesus, é necessário buscar fora da Igreja, separá-lo "das vendas do dogma eclesiástico".

    Sabemos qual foi o êxito de toda esta busca do Jesus histórico: o fracasso, o que não significa que não tenha trazido muitos frutos positivos. Persiste ainda, a este respeito, um equívoco de fundo. Jesus Cristo - e depois dele outros homens, como São Francisco de Assis - simplesmente não vive na história, mas criou uma história, e vive agora na história que criou, como um som na onde que provocou. O esforço obstinado dos historiadores racionalistas parece aquele de separá-lo da história que criou, para restituí-lo àquela comum e universal, como se assim fosse possível perceber melhor o som na sua originalidade, separando-o da onda que o transporta. A história que Jesus iniciou, ou a onda que emitiu, é a fé da Igreja animada pelo Espírito Santo e é somente por meio dela que se remete à sua fonte.

    Não está excluída com isto a legitimidade também da normal busca histórica sobre ele, mas esta deveria ser mais consciente de seu limite e reconhecer que não exaure tudo o que se pode saber de Cristo. Como o ato mais nobre da razão é reconhecer que existe algo que a supera, assim o ato mais honesto do historiador é reconhecer que existe algo que não se pode alcançar somente com a história.

    3. O sublime conhecimento de Cristo

    Ao final de sua obra clássica sobre a história da exegese cristã, Henri de Lubac chegava a uma conclusão pessimista. Faltavam a nós, modernos - dizia - as condições para poder ressuscitar uma leitura espiritual como aquela dos Padres; nos falta aquela fé plena de ímpeto, aquele senso da plenitude e da unidade das Escrituras que eles tinham. Querer imitar hoje a audácia deles em ler a Bíblia, seria um expor-se quase que à profanação, porque nos falta o espírito do qual brotavam aquelas coisas. Todavia ele não fechava totalmente a porta à esperança; em outra obra sua, disse que "caso se queira reencontrar algo daquilo que foi, nos primeiro séculos da Igreja, a interpretação espiritual das Escrituras, é necessário reproduzir, antes de tudo, um movimento espiritual".

    Aquilo que de Lubac observava a propósito da inteligência espiritual das Escrituras, se aplica, com mais forte razão, ao conhecimento espiritual de Cristo. Não basta escrever novos e mais atualizados tratados de pneumatologia. Se falta o suporte de uma vivida experiência do Espírito, análoga àquela que acompanhou, no século IV, a primeira elaboração da teologia do Espírito, o que se disser permanecerá sempre ao externo do verdadeiro problema. Nos faltam as condições necessárias para elevar-nos ao plano em que opera o Paráclito: o ímpeto, a audácia e aquela "sóbria embriaguez do Espírito", do qual falam quase todos os autores daquele século.

    Ora, precisamente aqui realizou-se a grande novidade desejada pelo Padre de Lubac. No século passado surgiu e se difundiu sempre mais um "movimento espiritual" que criou as bases para uma renovação da pneumatologia a partir da experiência do Espírito e de seus carismas. Falo do fenômeno pentecostal e carismático. Em seus primeiros cinquenta anos de vida, este movimento, nascido (como o Pietismo e o Metodismo recordados acima) como reação à tendência racionalista e liberal da teologia ignorou deliberadamente a teologia e foi, por sua vez, ignorado ( e até mesmo ridicularizado!) pela teologia.

    Quando , porém, por volta da metade do século passado, ele penetrou nas Igrejas tradicionais, na posse de uma vasta instrumentação teológica e recebeu uma acolhida de fundo pelas respectivas hierarquias, a teologia não pode mais ignorá-lo. No livro intitulado "A redescoberta do Espírito. Experiência e teologia do Espírito Santo", os mais conhecidos teólogos do momento, católicos e protestantes, examinaram o significado do fenômeno pentecostal e carismático para a renovação da doutrina do Espírito Santo.

    Tudo isto nos interessa, neste momento, somente do ponto de vista do conhecimento de Cristo. Qual conhecimento de Cristo começa a surgir nesta nova atmosfera espiritual e teológica? O fato mais significativo não é a descoberta de novas perspectivas e novas metodologias sugeridas pela filosofia do momento (estruturalismo, análises linguísticas, etc), mas é a redescoberta de um dado bíblico elementar: que Jesus Cristo é o Senhor! O Senhorio de Cristo é um mundo novo no qual se entra somente "pela ação do Espírito Santo".

    São Paulo fala de um conhecimento de Cristo de grau "superior", ou, até mesmo, "sublime", que consiste em conhecê-lo e proclamá-lo precisamente como "Senhor" (cf. Filip 3,8). É a proclamação que, unida à fé na ressurreição de Cristo, faz de uma pessoa alguém salvo: "Se com a tua boca proclamares: 'Jesus é o Senhor!', e com o teu coração creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo" (Rm 10,9). Ora, este conhecimento é possível somente pelo Espírito Santo: "Ninguém pode dizer: 'Jesus é o Senhor!', senão sob a ação do Espírito Santo" (1 Cor 12,3). Cada um, naturalmente, pode dizer com os lábios estas palavras, mesmo sem o Espírito Santo, mas não seria então a coisa grandiosa que recém dissemos; não faria dele alguém salvo.

    O que existe de especial nesta afirmação, para torná-la assim tão decisiva? Pode-se explicar isto sob diversos pontos de vista, objetivos ou subjetivos. A força objetiva da frase: "Jesus é o Senhor" está no fato de que ela torna presente a história e em particular o mistério pascal. É a conclusão que brota de dois acontecimentos: Cristo morreu pelos nossos pecados; ressuscitou para a nossa justificação; por isto é o Senhor. "Para isso, de fato, é que morreu Cristo e retomou a vida: para ser o Senhor tanto dos mortos como dos vivos" (Rm 14,9). Os acontecimentos que a prepararam como que se fecharam nesta conclusão e nela se tornam presentes e atuantes. Neste caso a palavra é realmente "a casa do ser". A proclamação: "Jesus é o Senhor" é a semente da qual desenvolveu-se todo o querigma e o anúncio cristão sucessivo.

    Do ponto de vista subjetivo - isto é, daquilo que depende de nós - a força daquela proclamação está no fato de que ela supõe também uma decisão. Quem a pronuncia decide o sentido da sua vida. É como se dissesse: "Tu és o meu Senhor; eu me submeto a ti, eu te reconheço livremente como o meu salvador, o meu senhor, o meu mestre, aquele que tem todos os direitos sobre mim". Eu pertenço a ti mais do que a mim mesmo, porque tu me compraste por um alto preço (cf 1 Cor 6,19 ss).

    O aspecto de decisão inerente à proclamação de Jesus "Senhor" assume hoje uma atualidade particular. Alguns acreditam que seja possível, e mesmo necessário, renunciar à tese da unicidade de Cristo, para favorecer o diálogo entre as várias religiões. Ora, proclamar Jesus "Senhor" significa precisamente proclamar a sua unicidade. Não por nada, a fórmula nos faz dizer: "Creio em um só Senhor Jesus Cristo". São Paulo escreve:

    "Pretende-se, é verdade, que existam outros desuses, quer no céu, quer na terra (e há um bom número desses deuses e senhores). Mas para nós, há um só Deus, o Pai, do qual procedem todas as coisas e para o qual existimos, e um só Senhor, Jesus Cristo, por quem todas as coisas existem e nós também" (1 Cor 8, 5-6).

    O apóstolo escrevia estas palavras no momento em que a fé cristã surgia, pequena e recém nascida, em um mundo dominado por cultos e religiões poderosas e prestigiosas. A coragem que é necessária hoje para acreditar que Jesus é "o único Senhor" é nada em relação àquilo que acontecia então. Mas o "poder do Espírito" não é concedido se não a quem proclama Jesus Senhor, nesta acepção forte das origens. É um dado de experiência. Somente depois que um teólogo ou um anunciador tenha decidido apostar tudo em Jesus Cristo "único Senhor", mas tudo mesmo, mesmo com o risco de ser "expulso da sinagoga", somente então faz a experiência de uma certeza e de um poder novos em sua vida.

    4. Do Jesus "personagem" ao Jesus "pessoa"

    Esta redescoberta luminosa de Jesus como Senhor é, dizia, a novidade e a graça que Deus está concedendo, nos nossos tempos, à sua Igreja. Eu me dei conta de que quando interrogava a Tradição sobre todos os outros temas e palavras da Escritura, os testemunhos dos Padres povoavam a mente; quando tentei interrogá-la sobre este ponto, esta restava quase muda. Já no século III, o título de Senhor não era mais compreendido em seu significado querigmático; fora do âmbito religioso judaico, ele não era assim mais tão significativo para expressar suficientemente a unicidade de Cristo. Orígenes considera "Senhor" (Kyrios) o título precisamente de quem está ainda na fase do temor; a isto corresponde, segundo ele, o título de "servo", enquanto a "Mestre" corresponde o de "discípulo" e de amigo.

    Se continua certamente a falar de Jesus "Senhor", mas isto tornou-se um nome de Cristo como os outros, antes, mais frequentemente um dos elementos do nome completo de Cristo: "Nosso Senhor Jesus Cristo". Mas uma coisa é dizer: "Nosso Senhor Jesus Cristo" e outra é dizer "Jesus Cristo é o nosso Senhor!". Um indicador desta mudança é o modo como foi traduzido na Vulgata o texto de Filipenses 2,11: "Omnis lingua confiteatur quia Dominus noster Iesus Christus in gloria est Dei Patris", "E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é o Senhor". Neste modo, que é aquela das traduções atuais, não se pronuncia somente um nome, mas se faz uma profissão de fé.

    Onde está, em tudo isto, o salto qualitativo que o Espírito Santo no faz dar no conhecimento de Cristo? Está no fato de que a proclamação de Jesus Senhor é a porta que introduz ao conhecimento de Cristo ressuscitado e vivo! Não mais um Cristo personagem, mas pessoa; não mais um conjunto de teses, de dogmas (e de correspondentes heresias), não mais somente objeto de culto e de memória - mesmo aquela litúrgica e eucarística - mas pessoa viva e sempre presente no Espírito.

    Este conhecimento espiritual e existencial de Jesus como Senhor, não leva a negligenciar o conhecimento objetivo, dogmático e eclesial de Cristo, mas o revitaliza. Graças ao Espírito Santo, diz Santo Irineu, a verdade revelada "como um depósito precioso contido em um vaso de valor, rejuvenesce e faz sempre rejuvenescer também o vaso que a contém".

    A um destes dogmas, aquele que constitui a segunda parte da fórmula do Creio: "gerado e não criado, da mesma substância do Pai", dedicaremos, se Deus quiser, a nossa próxima meditação.

    Não saberia indicar uma resolução prática a ser tomada ao final destas reflexões, melhor do que aquela que se lê no início da Exortação Apostólica do Papa Francisco Evangelii gaudium: "Convido a todos os cristãos, em qualquer lugar e situação em que se encontrem, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, ao menos, a tomar a decisão de deixar-se encontrar por Ele, de buscá-lo a cada dia sem cessar. Não existe motivo pelo qual alguém possa pensar que este convite não seja para ele".

    Papa Francisco: indispensável promover o diálogo e a escuta


    Papa Francisco - AFP
    11/03/2017 12:02

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    Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco recebeu no final da manhã deste sábado, no Vaticano, os voluntários do “Telefone Amigo Itália”, por ocasião dos seus 50 anos de atividades.

    No seu discurso aos cerca de 400 presentes na Sala Clementina, no Palácio Apostólico o Santo Padre afirmou que essa Associação está comprometida a apoiar todos aqueles que se encontram em condições de solidão, confusão e que necessitam de escuta, compreensão e ajuda moral.

    “Trata-se de um serviço importante, especialmente no contexto social de hoje, - disse o Papa -, marcado por múltiplas dificuldades cujas origens muitas vezes se encontram no isolamento e na falta de diálogo”.

    Indispensável promover o diálogo e a escuta

    As grandes cidades, - continuou Francisco -, apesar de serem superpovoadas, são emblema de um gênero de vida pouco humano à qual os indivíduos estão se acostumando: indiferença generalizada, comunicação cada vez mais virtual e menos pessoal, falta de valores sólidos sobre os quais basear a existência, cultura do ter e do aparecer. Neste contexto, - reafirmou - é indispensável promover o diálogo e a escuta.

    “O diálogo permite conhecer e entender as recíprocas necessidades. Primeiro, demostra um grande respeito, porque coloca as pessoas em um comportamento de abertura recíproca, para receber os aspectos melhores do interlocutor. Além disso, o diálogo é expressão de caridade, porque, mesmo não ignorando as diferenças, pode ajudar a buscar e compartilhar caminhos em busca do bem comum”.

    Dialogar ajuda as pessoas a humanizar as relações

    Francisco acrescentou que através do diálogo, “podemos aprender a ver o outro não como uma ameaça, mas como um dom de Deus, que nos interpela e nos pede para ser reconhecido”. Dialogar ajuda as pessoas a humanizar as relações e a superar mal-entendidos. Se houvesse mais diálogo - um diálogo real! - nas famílias, no ambiente de trabalho, na política, seriam resolvidas mais facilmente tantas questões, afirmou o Santo Padre.

    Ouvir o outro requer paciência 

    Mas a condição do diálogo - acrescentou o Pontífice - é a capacidade de escutar, que infelizmente não é muito comum. Ouvir o outro requer paciência e atenção. Somente quem sabe se calar sabe escutar: escutar Deus, escutar o irmão e a irmã que precisam de ajuda, escutar um amigo, um membro da família.

    “O próprio Deus é o melhor exemplo de escuta: cada vez que rezamos, Ele nos ouve, sem pedir nada e até mesmo nos precede e toma a iniciativa em atender os nossos pedidos de ajuda. A atitude de escuta, da qual Deus é o modelo, exorta-nos a derrubar os muros dos mal-entendidos, a criar pontes de comunicação, superando o isolamento e o fechamento no nosso mundo pequeno”.

    O Papa finalizou que através do diálogo e da escuta podemos contribuir à construção de um mundo melhor, tornando-o lugar de acolhida e respeito, contrastando assim as divisões e os conflitos. (SP)

    quarta-feira, 1 de março de 2017


    CINZAS
    Papa alerta para as tentativas de banalizar a vida
    QUARTA-FEIRA, 1 DE MARÇO DE 2017

    Francisco falou da Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, que os católicos celebram em todo o mundo, a partir desta Quarta-feira de Cinzas

    Da redação, com Agência Ecclesia

    A Igreja Católica iniciou nesta quarta-feira, 1º, o tempo litúrgico da Quaresma, com a celebração das cinzas. No Vaticano, o Papa Francisco presidiu a procissão e a Missa com o rito penitencial e alertou para as tentativas de “banalizar a vida” e para as consequências da “indiferença” perante quem sofre.

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    “A Quaresma é o tempo para dizer não: não à asfixia do espírito pela poluição causada pela indiferença, pela negligência de pensar que a vida do outro não me diz respeito; por toda a tentativa de banalizar a vida, especialmente a daqueles que carregam na sua própria carne o peso de tanta superficialidade”, disse o Papa na Basílica de Santa Sabina.

    A celebração foi antecedida por uma “procissão penitencial” desde a igreja de Santo Anselmo, no Aventino, onde o Papa se deslocou, desde o Vaticano, para um momento de oração, acompanhado por cardeais, bispos, os monges beneditinos desta igreja e os padres dominicanos de Santa Sabina.


    Francisco falou do tempo de preparação para a Páscoa, que os católicos celebram hoje em todo o mundo, como “um caminho” que leva “à vitória da misericórdia” sobre tudo o que procura “esmagar” ou “reduzir” o ser humano a algo que “não corresponda à dignidade de filhos de Deus”.

    “A Quaresma é a estrada da escravidão à liberdade, do sofrimento à alegria, da morte à vida”, disse o Santo Padre.

    “Fomos tirados da terra, somos feitos de pó. Sim, mas pó nas mãos amorosas de Deus, que soprou o seu espírito de vida sobre cada um de nós e quer continuar a fazê-lo”, observou, lembrando o rito das cinzas.

    Segundo o Papa, este sopro de vida contrapõe-se à “asfixia” do egoísmo, das “ambições mesquinhas e silenciosas indiferenças”, ao “ar sufocante de pânico e hostilidade”.

    “Viver a Quaresma é ansiar por este sopro de vida que o nosso Pai não cessa de nos oferecer na lama da nossa história”, acrescentou.

    A homilia alertou ainda para correntes de espiritualidade que reduzem a fé a “culturas de gueto e exclusão”.

    “A Quaresma significa não à poluição intoxicante das palavras vazias e sem sentido, da crítica grosseira e superficial, das análises simplistas que não conseguem abraçar a complexidade dos problemas humanos, especialmente os problemas de quem mais sofre”, prosseguiu.

    Francisco convidou os fiéis a não “rasgar as vestes frente ao mal” que os rodeia, mas, sobretudo, a dar espaço a todo o bem que possam realizar, despojando-se daquilo que “isola, fecha e paralisa”.

    A Quaresma, iniciada hoje, é um período de 40 dias marcado pela prática do jejum, caridade e da penitência, que servem de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão.

    INÍCIO DA QUARESMA
    Quaresma é caminho de esperança, reflete Papa na catequese
    QUARTA-FEIRA, 1 DE MARÇO DE 2017

    No ciclo sobre esperança cristã, reflexão de hoje foi dedicada à Quaresma, que começa nesta Quarta-Feira de Cinzas em preparação para a Páscoa


    Da Redação, com Rádio Vaticano






    Papa Francisco na catequese desta quarta-feira, início da Quaresma / Foto: Reprodução CTV


    Dando continuidade ao ciclo de catequeses sobre a esperança, o Papa Francisco refletiu nesta Quarta-feira de Cinzas, 1º, sobre a “Quaresma, caminho de esperança”. Cerca de 10 mil pessoas acompanharam a reflexão sobre esse tempo que os católicos vivem em preparação para a Páscoa.


    Francisco lembrou que, nestes quarenta dias, Deus chama os homens a sair das trevas e caminhar para Ele, que é a Luz. Quaresma é período de penitência com a finalidade de se renovar em Cristo, renascer ‘do alto’, do amor de Deus. E é por isso que a Quaresma é, por natureza, tempo de esperança.


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    Neste sentido, disse o Papa, é preciso olhar para a experiência do Êxodo do povo de Israel, que Deus libertou da escravidão do Egito por meio de Moisés, e guiou durante quarenta anos no deserto até entrar na Terra da liberdade. Foi um período longo e conturbado, cheio de obstáculos.


    “Simbolicamente dura 40 anos, ou seja, o tempo de vida de uma geração. Muitas vezes, o povo, diante das provações do caminho, sente a tentação de voltar ao Egito. Mas o Senhor permanece fiel e guiado por Moisés, chega à Terra prometida: venceu a esperança. É precisamente um ‘êxodo’, uma saída da escravidão para a liberdade. Cada passo, cada fadiga, cada provação, cada queda e cada reinício… tudo tem sentido no âmbito do desígnio de salvação de Deus, que quer para seu povo a vida e não a morte; a alegria e não a dor”.


    A Páscoa de Jesus é também um êxodo, sublinhou Francisco, explicando que Deus abriu o caminho e para fazê-lo, teve que se humilhar, despojar-se de sua glória, fazendo-se obediente até a morte na Cruz, libertando o homem, assim, da escravidão do pecado. “Mas isto não quer dizer que Ele fez tudo e nós não precisamos fazer nada; que Ele passou através da cruz e nós vamos ‘ao paraíso de carroça’… não”.


    Jesus indica o caminho da peregrinação pelo deserto da vida, um caminho exigente, mas cheio de esperança. “O êxodo quaresmal é o caminho no qual a própria esperança se forma. É um caminho dificultoso, como é justo que seja, mas um caminho pleno de esperança. Como o percorrido por Maria, que em meio às trevas da Paixão e Morte de seu Filho, continuou a crer em sua ressurreição, na vitória do amor de Deus”.


    Como já é tradição, Francisco escreveu uma mensagem para a Quaresma deste ano, com o tema “A Palavra é um dom. O outro é um dom”. O texto foi publicado em fevereiro passado.

    Papa lembra que devemos escolher a Deus, e não as riquezas

     TERÇA-FEIRA, 28 DE FEVEREIRO DE 2017

    Papa Francisco falou sobre a plenitude com que Deus nos doa, na homilia de hoje

    Da redação, com Rádio Vaticano



    Papa Francisco na missa desta terça-feira,28./ Foto: Rádio Vaticano.

    Seguir o Senhor que nos doa tudo, e não buscar as riquezas. Foi o que afirmou o Papa na missa matutina na Casa Santa Marta, nesta terça-feira, 28. Comentando o Evangelho do dia, o Papa ressaltou a “plenitude” que Deus nos doa: uma plenitude “aniquilada” que termina na Cruz.

    “Não se pode servir a dois senhores”, ou servimos Deus ou as riquezas. Na vigília da Quarta-feira de Cinzas, Francisco falou que nesses dias antes da Quaresma a Igreja “nos faz refletir sobre a relação entre Deus e as riquezas”. E recorda o encontro entre o “jovem rico, que queria seguir o Senhor, mas no final era tão rico que escolheu as riquezas”.

    O Papa observou que o comentário de Jesus assusta um pouco os discípulos: “Quanto é difícil que um rico entre no Reino dos Céus. É mais fácil que um camelo passe pelo buraco de uma agulha”. Hoje, prosseguiu, o Evangelho de Marcos nos mostra Pedro que pergunta ao Senhor o que será deles já que deixaram tudo para trás. É como se Pedro pedisse contas ao Senhor”:

    “Não sabia o que dizer: ‘Sim, este foi embora, mas nós?’. A resposta de Jesus é clara: ‘Eu vos digo: não há ninguém que deixe tudo sem receber tudo’. ‘Pois bem, nós deixamos tudo’. ‘Receberão tudo’, com aquela medida transbordante com a qual Deus oferece os dons. ‘Receberão tudo. Quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho receberá cem vezes mais agora, durante esta vida – casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições – e, no mundo futuro, a vida eterna’. Tudo. O Senhor não sabe dar menos do que tudo. Quando Ele doa algo Ele doa a si mesmo, que é tudo”.

    Todavia, acrescentou o Papa, “há uma palavra” neste trecho do Evangelho “que nos faz refletir: receber já agora neste tempo cem vezes mais em casas, irmãos, com perseguições”.

    Francisco explicou que isto é “entrar” em “outro modo de pensar, em outro modo de agir. Jesus dá todo si mesmo, porque a plenitude, a plenitude de Deus é uma plenitude aniquilada na Cruz”:

    “Este é o dom de Deus: a plenitude aniquilada. E este é o estilo do cristão: buscar a plenitude, receber a plenitude aniquilada e seguir este caminho. Não é fácil, isso não é fácil. E qual é o sinal, qual é o sinal deste ir avante em doar tudo e receber tudo? É o que ouvimos na primeira leitura: ‘Faze todas as tuas oferendas com semblante sereno, e com alegria consagra o teu dízimo. Dá a Deus segundo a doação que ele te fez, e com generosidade, conforme as tuas posses. Semblante sereno, alegria… O sinal que nós estamos neste caminho do tudo e nada, da plenitude aniquilada, é a alegria”.

    Ao invés, o jovem rico, disse o Papa, “ficou com o semblante fechado e foi embora triste”. “Não foi capaz de receber, acolher esta plenitude aniquilada – advertiu – assim como os Santos, o próprio Pedro, a acolheram. E em meio às provações, às dificuldades, tinham o semblante sereno, o olhar alegre e a alegria do coração. Este é o sinal, evidenciou Francisco, que concluiu a homilia recordando o Santo chileno Alberto Hurtado:

    “Ele trabalhava sempre, dificuldade atrás de dificuldade… trabalhava pelos pobres…. Foi realmente um homem que abriu caminhos em seu país… A caridade para a assistência aos pobres… Mas foi perseguido, muitos sofrimentos. Mas ele, quando justamente estava ali, aniquilado na cruz, a frase foi: ‘Contento, Señor, Contento’, ‘Feliz, Senhor, feliz’. Que ele nos ensine a caminhar nesta estrada, nos dê a graça de caminhar nesta estrada um pouco difícil do tudo e do nada, da plenitude aniquilada de Jesus Cristo e dizer sempre, sobretudo nas dificuldades: ‘Feliz, Senhor, feliz’”.